domingo, 29 de janeiro de 2017

ALFRED KOWALSKI

ALFRED VON WIERUSZ-KOWALSKI - Lobos em ataque - Óleo sobre tela - 88 x 135

Os motivos favoritos de Alfred Kowalski, quando se propunha a começar qualquer pintura, eram as cenas que remetiam a sua infância e as terras do interior de seu país. Cenas de caça, corridas em trenó, ida e retorno para as feiras, procissões a cavalo, alegres festividades de casamento, caçadores em descanso, momentos de conversa entre vizinhos e amigos... momentos transbordantes de fantasia e alegria despreocupada, com pitadas de humor que ilustravam tão bem a vida corriqueira do interior polonês. Porém, o que o tornou mesmo famoso, foram as várias cenas de lobos atacando pessoas em viagens a trenó. Essas imagens, todas elas muito dramáticas, eram sempre compostas com um dinamismo admirável, com movimentos muito bem elaborados e composições cuidadosamente planejadas. Ele variou essa temática em dezenas de obras, que ganharam uma popularidade imensa entre colecionadores alemães, ingleses e americanos.

ALFRED KOWALSKI - Casamento no campo - Óleo sobre tela - 79 x 107

ALFRED KOWALSKI - O passeio alegre - Óleo sobre tela - 133 x 181,5

Alfred John Maximilian Wierusz-Kowalski nasceu na cidade polonesa de Suwalki, no dia 11 de outubro de 1849, filho de Theophilus Wierusz-Kowalski e Teofila Siewierskich. Cresceu numa família grande, que somava os dois filhos do casamento anterior do pai aos sete filhos do novo casamento. Apesar de família numerosa, viviam em relativo conforto, graças às boas condições financeiras propiciadas pela carreira de administrador de ativos do pai. Um dos fatos importantes na vida de Alfred Kowalski foi a mudança da família de Suwalki para Kalisz, em 1865. Um longo trajeto, feito com etapas e paradas, e que marcou muito na memória do jovem rapaz, que tinha apenas 16 anos. Não só ia descobrindo belas paisagens pelo caminho, que até então não havia visto, como conhecendo o ritmo de vida de pequenas aldeias pelas quais paravam. Essas memórias o acompanhariam por toda a vida e muito influenciaram sua escolha pelas temáticas que pintava.

ALFRED KOWALSKI - Caucasianos - Óleo sobre tela - 61 x 101 - 1880

ALFRED KOWALSKI - Corrida lituana - Óleo sobre tela - 73 x 119 - 1883

A vida artística de Alfred Kowalski começou de maneira bem sólida, alicerçada por uma base que não podia ser diferente para quem desejava ser um bom artista: fazer uma boa escola de desenho e partir para centros maiores. Assim, estudou primeiramente desenho com Stanislaw Barcokowski, um graduado respeitável da Escola de Belas Artes de Varsóvia e em 1868 juntaria à Escola de Desenho de Varsóvia, onde concluiria seus estudos iniciais com Raphael Hadzewicza, Aleksander Kaminski e Wojciech Gerson. Os estudos conclusivos dessa fase se dariam em Dresden, Praga e Munique, à partir de 1871. Era um aluno dedicado e se saía bem em todas as disciplinas. Foi em Munique que concluiu seus estudos com Alexander Wagner e também conheceu Joseph Brandt, um notável pintor polonês que morava por lá, cujos trabalhos muito o impressionaram e teriam influência decisiva na sua temática futura.

ALFRED KOWALSKI - O descanso do caçador próximo a um córrego
Óleo sobre tela - 31,5 x 42,7

ALFRED KOWALSKI - No caminho para o mercado - Óleo sobre tela - 21,5 x 47,5 - 1870

Munique era um dos centros mais animados culturalmente na região. Abrigava muito bem vários artistas e todos conseguiam uma boa clientela e prestígio. Foi assim também com Alfred Kowalski, que se estabeleceu por ali, fundando seu próprio estúdio. A fase era a melhor de sua vida e ele produziu muito. Aproveitou cada minuto realizando inúmeras obras e conquistando fama e uma clientela de respeito. Em sua temática, lá estavam todos os recortes de sua memória, das cenas agradáveis de sua infância e das cenas que foi colhendo pelo caminho, até a sua chegada a Munique. Além de todas aquelas já citadas no início da matéria, uma outra temática frequente e que muito agradou foi a representação de lobos solitários, em paisagens desoladas de inverno. Cenas de melancolia e que davam uma outra dimensão à imagem perversa e agressiva que os lobos tinham até então.

ALFRED KOWALSKI - Lobo - Óleo sobre tela - 47 x 62 - Cerca de 1900

ALFRED KOWALSKI - Procurando ursos - Óleo sobre tela - 102 x 73

Alfred Kowalski também gostava de viajar e chegou até o norte da África, em 1903, onde fez cenas importantes da exótica cultura árabe. Ele também participou de exposições internacionais importantes e conseguiu prêmios e medalhas de respeito em Viena, Berlim, Paris, St Louis e Louisville, além de Munique, sua cidade de referência. Também dedicou uma exposição itinerante pelo seu país natal, fazendo mostras em Varsóvia, Cracóvia, Lviv e Poznan. Naquela fase de sua vida, muitos museus e galerias da Europa e Estados Unidos disputavam constantemente pelas suas obras.

ALFRED KOWALSKI - Esperando pelo guia - Óleo sobre tela - 32 x 39,5 - 1876

ALFRED KOWALSKI - Um dia ensolarado de inverno - Óleo sobre tela - 20,5 x 27

Apesar de nunca ter chegado a ser um mestre em tempo regular de ensino, a Academia de Munique o concedeu, em 1890, o título de professor honorário pela Academia. Ele não media esforços em receber todos os jovens artistas que chegavam à cidade, e sua casa e estúdio sempre foram as primeiras referências para todos que chegavam por ali. Lá, eram sempre recebidos calorosamente e muitos hospedavam ali até que pudessem se manter por conta própria.

ALFRED KOWALSKI - Retornando para casa - Óleo sobre tela - 46,3 x 66

ALFRED KOWALSKI - Cavalo e trenó numa rua da vila - Óleo sobre tela - 37,5 x 43

Um fato curioso e triste aconteceu com uma de suas mais importantes obras. Intitulada “Ataque dos lobos”, e medindo 5 x 10 metros, Alfred Kowalski a considerava o trabalho de sua vida. A obra foi executada arduamente durante o ano de 1910 e chegou inclusive a ser exposta em Varsóvia, no ano de 1919, anos após sua morte. Fotos de trechos da obra foram as únicas evidências que atestam sua existência. Numa viagem entre Munique e a Polônia, o carro que a transportava incendiou, sendo impossível de salvá-la.

ALFRED KOWALSKI - Trenó - Óleo sobre tela - 31,5 x 55

ALFRED KOWALSKI - Paleta, estudos

Alfred Kowalski faleceu em Munique, no dia 16 de fevereiro de 1915 e seus restos mortais foram levados para a Polônia, em 1936, onde estão até hoje no cemitério Powazki, em Varsóvia. Em 1966, por iniciativa do Museu de Suwalki, sua cidade natal, foi realizada uma grande retrospectiva com suas obras, que vieram de importantes coleções de particulares e de museus. Em 1972, um museu dedicado a ele foi inaugurado na mesma cidade, e contém obras e pertences que descrevem a vida desse importante artista polonês.

ALFRED KOWALSKI - Autorretrato com paleta
Óleo sobre tela - 160 x 110 - 1900 - Museu Nacional em Varsóvia

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

STEFANO BRUZZI

STEFANO BRUZZI - Siesta - Óleo sobre tela - 1900

Muitos artistas conviveram com momentos de transformações importantes na história da arte. Alguns aderiram aos movimentos que promoviam tais transformações, outros se tornaram alheios a eles e outros ainda, tinham conhecimento e respeito sobre eles e, no entanto, preferiram seguir convictos em seus caminhos traçados. Podemos dizer que Stefano Bruzzi se encaixa nesse último grupo de artistas. Bruzzi viveu numa Itália de transformações, como em transformação estava toda a Europa. As correntes modernistas que irradiavam de Paris atingiam a todos os lugares. Muitos se tornaram adeptos a elas, outros preferiam a comodidade de suas conquistas.

STEFANO BRUZZI - A primeira neve - Óleo sobre tela - 72 x 112 a

Os Macchiaioli, grupo de artistas italianos que pintava com “manchas de óleo”, algo parecido com o movimento impressionista, mas com propostas diferentes enquanto à temática, teve a adesão de vários artistas da Itália. Bruzzi fazia parte dessa corrente que atuava na Toscana. Mais adepto à observação da natureza, do que necessariamente ao domínio extremamente técnico, mesmo que tenha sido técnico exímio na produção de suas obras, Bruzzi seguia discreto em sua vida. Frequentava os cafés onde o movimento ganhava força, mas era no campo, entre o céu e as montanhas, que sua inspiração ganhava alento.

STEFANO BRUZZI - Agradecendo a refeição - Óleo sobre tela - 1900

Stefano Bruzzi nasceu em Piacenza, no 1º dia do mês maio de 1835, filho de Pietro e Anna Pistons. Estudou inicialmente em sua cidade natal e suas primeiras lições de arte se deram no Instituto de Arte de Gazzola, onde teve aulas com Lorenzo Toncini, um artista especialista em figuras. Artista espirituoso e de fácil aprendizado, logo se viu encorajado a seguir novos caminhos. Mas, foi apenas em 1854, que decide definitivamente deixar sua região e ir para Roma, o centro da arte italiana naquele momento. Alessandro Castelli foi seu instrutor nessa fase, assimilando dele uma técnica precisa e profundo valor ao detalhamento. Mesmo que praticasse bastante o exercício de figuras, a paisagem também o encantava e o remetia a sua terra natal.

STEFANO BRUZZI - Carteiro dos Apeninos - Óleo sobre tela - 68 x 105 - 1890

Bruzzi sentia mesmo à vontade era nos arredores de Roma, nas proximidades do Lago Albano e Nemi, e nas localidades de Tivoli e Frascati. Foi no ano de 1855, nessas viagens, que se dedicou ainda mais ao estudo de figuras. Nos próximos dois anos, ele passaria por ali com mais frequência, agora com a companhia de Nino Costa, que o apresentou posteriormente a Arnold Böcklin. Os três se tornaram grandes amigos e dividiam aprendizados e conhecimentos. Tentou, sem êxitos, uma entrada no exército em 1859. Por falta de aptidão física, não foi aprovado. Entre os anos de 1860 e 1862, trabalhou em Bolonha, e passou o ano seguinte em Milão. Sempre aprendendo e conhecendo novos amigos.

STEFANO BRUZZI - O caminho de casa - Óleo sobre tela

Ainda em 1863 retorna para sua cidade natal e ficaria por ali até 1870. Pode-se afirmar que já era um artista maduro nesse período, já convicto de sua temática principal, que girava em torno das paisagens e cenas dos Apeninos. Ele vivia entre Florença e Roncolo Gropallo. Sempre que podia, estava nas terras do interior, relaxando e pintando ao ar livre. O contato com a natureza era quase que uma necessidade física e mental sua. É nessa fase, que sua pintura perde o aspecto muito betumoso e ganha mais leveza e luz. Os verdes tornaram mais naturais e brilhantes.

STEFANO BRUZZI - Descanso entre as ruínas - Óleo sobre tela - 22 x 56 - 1856

Alguns artistas de sua época o criticavam por se mostrar resistente às correntes modernistas que apostavam num trabalho mais solto e colorido. No entanto, Bruzzi se manteve firme a suas propostas e fazia questão de não abrir mão delas. Pela qualidade de suas obras, mesmo não se rendendo aos apelos modernistas, seus trabalhos eram bastante procurados. O período mais valorizado de sua produção consiste nos estudos realizados do real, entre os quais não é difícil encontrar obras-primas que permaneceram para testemunhar a sinceridade dos seus aprendizados perante a natureza. Dessa época, existem vários trabalhos de genuína espontaneidade, habilidade e boas composições.

STEFANNO BRUZZI - Cansaço extremo - Óleo sobre tela - 55 x 99 - 1880

Uma importante fase de sua vida veio em 1874, quando a família Bruzzi mudou-se para Florença, onde o pintor se encontrou com outros artistas como Giovanni Fattori, Telemaco Signorini , Filippo Palizzi, Serafino De Tivoli, Gerolamo Induno , Vincenzo Cabianca, Vito D'Ancona, e Domenico Morelli. Assim, ele tornou-se parte da corrente toscana dos Macchiaioli. Depois de várias exposições e ter atingido um nível considerável de fama, nacional e internacional,  Bruzzi ganhou em 1888, o Primeiro Prémio na Exposição de Bolonha com a obra "O retorno do mercado". Ele voltou para Piacenza em 1895, onde começou a ensinar no Instituto de Belas Artes Gazzola, do qual viria a se tornar diretor, até os seus últimos dias. Ali mesmo, em Piacenza, viria a falecer no dia 4 de janeiro de 1911.

STEFANO BRUZZI - A pequena pastora e suas ovelhas
Óleo sobre tela - 40 x 30,5


Passou toda sua vida dedicando aos seus mais fortes princípios e não teve vergonha em afirmar que viu passar os mais variados movimentos vanguardistas de sua época. Acreditava em sua proposta e respeitava as propostas de artistas amigos, convivendo pacificamente com eles. É um artista respeitado na produção artística do Ottocento italiano.


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