domingo, 26 de junho de 2016

GIANLUCA CORONA

GIANLUCA CORONA - Controvento - Óleo sobre madeira - 60 x 100 - 2014

GIANLUCA CORONA - Mel natural - Óleo sobre madeira - 50 x 80

A natureza-morta é um gênero de pintura que se caracteriza pela representação de objetos inanimados e foi utilizada pela primeira vez na Grécia, segundo antigas escavações por lá. Seguidora fervorosa das tradições e novidades que vinham da Grécia, a Itália também adotou o gênero, como comprovam escavações feitas em Pompeia, onde pinturas e mosaicos adornavam paredes e objetos. Aliás, a Itália se tornou um país com produção considerável dessa vertente. O Renascimento daria nomes louváveis nessa área, como Caravaggio, e o país serviria também de incentivo para os países do norte da Europa. Mantendo a tradição italiana de naturezas mortas, Gianluca Corona é um dos grandes representantes atuais nessa área.

GIANLUCA CORONA - Composição com ameixas e magnólia - Óleo sobre madeira - 40 x 60

GIANLUCA CORONA - Consonanza - Óleo sobre tela colada em madeira - 25 x 50 - 2012

Gianluca Corona nasceu na cidade de Milão, no ano de 1969 e em 1991 ele já estaria formado pela Academia de Belas Artes de Brera, também na cidade de Milão. Uma das referências artísticas da cidade e também do norte da Itália, a Academia de Brera, como é mais conhecida, é um emblema da perfeita ligação entre Ciência, Letras e Artes. Gianluca se formou ali sob rigorosa disciplina. Ao deixar a Academia, ele concluiu seus estudos na cidade de Bérgamo, agora sob os ensinamentos de Mario Donizetti. Conhecido internacionalmente por ser um ensaísta e eficiente artista técnico, Donizetti também apurou em Corona o gosto pelo trabalho bem executado e o rigor da aplicação técnica.

GIANLUCA CORONA - Uvas - Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

Não é de estranhar que a arte de Gianluca Corona tenha inspiração nos mestres passados. Ele se apossou das técnicas tradicionais dos séculos XVI e XVII e faz questão de utilizar os mesmo materiais desenvolvidos naqueles tempos. Ele aplica os conhecidos baseados daquelas épocas em retratos e naturezas mortas. Essas últimas são o cartão de visita de sua produção e com elas vem conquistando respeito dentro e fora de seu país.

GIANLUCA CORONA - Figos - Óleo sobre madeira - 25 x 35 - 2011

GIANLUCA CORONA - Scarlet - Óleo sobre madeira - 25 x 25 - 2013

Diversos críticos e conhecedores da arte italiana, colocam esse artista lombardo como um profissional sem paralelo na arte figurativa de seu país. De comportamento humilde, seletivo em suas composições e produção altamente eficiente, é sensato dizer que Gianluca Corona já deixa sua marca na arte italiana desses tempos.

GIANLUCA CORONA - Susine - Óleo sobre madeira - 30 x 55 - 2014

Até bem pouco tempo atrás, a natureza morta era considerada um gênero secundário da arte pictórica em diversas partes do mundo. Felizmente, esse gênero retorna com força ao cenário mundial, graças às grandes feiras internacionais e exposições mundiais que ressuscitaram essa temática. E, evidentemente, aos competentes artistas de vários países que vem devolvendo a esse gênero, o lugar de destaque que não merecia ter perdido. Devido ao grande sucesso de Gianluca Corona com essa temática, em exposições em Londres e Bélgica, ele se tornou o grande artista italiano representante desse gênero na atualidade.

GIANLUCA CORONA - O mel de Miranda - Óleo sobre madeira - 35 x 80 - 2014

GIANLUCA CORONA - Duelando - Óleo sobre madeira - 25 x 55 - 2013

Com desempenho técnico admirável e com atenção especial dada a cada detalhe das obras, Corona se encaixa na vertente hiper-realista dessa nova safra de pintores de naturezas mortas. Nada escapa ao seu olhar: frutas, legumes, folhas, queijos, pães, objetos, todos relembrando a influência dos antigos trabalhos que foram a base de sua formação. A tensão vibrante que consegue em seus desenhos e pinturas, vai muito além do resultado fotográfico, como se conseguisse um realismo mágico, que expressa formas e cores de uma forma bem delicada.

GIANLUCA CORONA - Estados - Óleo sobre tela - 40 x 80

GIANLUCA CORONA - La contesa
Óleo sobre tela - 35 x 60

Para uma época, onde não pareça existir mais nada de novo a criar no mundo da arte, o melhor mesmo é observar atentamente o que os eficientes artistas dessa geração tem explorado com antigos temas. Gianluca Corona faz exatamente isso, pega os antigos temas e fórmulas, mas os reveste de todo seu sentimento e dedicação. Não há como não se sensibilizar com sua obra. O artista ainda vive e trabalha em Milão e suas obras estão espalhadas por várias coleções públicas e privadas de diversas partes do mundo.


PARA SABER MAIS:



domingo, 19 de junho de 2016

RENATO MUCCILLO

RENATO MUCCILLO - Valley thunderhead - Óleo sobre tela - 122 x 122

Foi numa manhã de outono, alguns anos atrás, passeando com seu cão galgo, que Renato Muccillo encontrou o seu caminho na arte. Era um dia como outro, em um canto de Fraser Valley, próximo à cidade de Vancouver, o céu coberto com grossas nuvens e ventos cortando o ar em ocasionais rajadas. Um silêncio profundo era intensificado ainda mais pelos azuis que brotavam em todos os cantos, seja nas sombras dos arbustos ou na calmaria da água... Interrompido apenas por alguns distantes pássaros que voavam em suas rotas. De repente, ele ficou impressionado com aquela gloriosa sensação de parecer ser a única pessoa no mundo naquele momento. O impacto daquele instante foi tão intenso que ele decidiu, ali mesmo, que rumos daria para sua arte.

RENATO MUCCILLO - Difusão óxida - Óleo sobre tela - 38,1 x 76,2

RENATO MUCCILLO - May meadows - Óleo sobre tela - 35,5 x 45,7

No início da década de 1990, Muccillo começou a trabalhar em imagens hiper-realistas, principalmente de animais canadenses. Tornou-se inclusive integrante numa empresa de Toronto, que colocava aquele tipo de trabalho no mercado. Ele era praticamente um autodidata, mas com uma disciplina acima da média. Mas, assim como ele, muitos outros artistas parecem ter tido aquela mesma ideia no momento, e então o mercado se viu saturado com aquela temática. Frustrado, ele decidiu parar de pintar em 1996, e arrumou um serviço burocrático em uma empresa administrativa.

RENATO MUCCILLO - Formações, estudo - Óleo sobre tela - 28 x 28

RENATO MUCCILLO - Ford Road Nocturne - Óleo sobre tela - 30,5 x 61

Nos anos finais de 1990, uma mostra de sete artistas canadenses, acontecida numa galeria em Voncouver, daria um novo alento ao artista que até então parecia um pouco perdido. As obras daquela mostra retratavam paisagens do Canadá em estilos que iam desde um impressionismo lírico a cenas expressionistas carregadas de emoção. As obras libertaram o olhar de Muccillo e o tiraram da confortável zona de quem produz cenas hiper-realistas para um pintor que desejava abordar cenas de forma mais abstraída. O desejo de mudança, somado ao passeio ocasional naquele dia de outono, despertaram nele a vontade de retratar o mundo que via, silencioso e introspectivo, numa abordagem técnica completamente diferente.

RENATO MUCCILLO - Formações - Óleo sobre tela - 71,1 x 55,8

Assim, nascia o artista Muccillo dono de uma paleta mais arrojada, com cores que vinham mais de seu interior do que propriamente do mundo que via, com uma resolução pictórica mais despojada e livre, onde a fluidez tornava-se o ingrediente essencial em sua obra. O estilo comportado do início de carreira deu espaço a uma abordagem muito mais dinâmica, com bases monocromáticas intensas, efeitos sutis nos detalhes e camadas de veladura que intensificavam ainda mais o volume e o contraste. Ele apresentou essa nova série pela primeira vez em 2002 e o resultado perante público e crítica foi imediato. Desde 2003, sua agenda ficou apertada. Seguiram uma fase normal de prêmios e exposições que não tem mais volta.

RENATO MUCCILLO - A oeste de Mc Donald Beach - Óleo sobre tela - 45,7 x 76,2

RENATO MUCCILLO - Veia de prata - Óleo sobre tela - 61 x 121,9

Renato Muccillo nasceu em Vancouver, no Canadá, em 1965. Descendente de pais italianos, que deixaram uma vila tranquila na região dos Apeninos, no sul da Itália. Desde muito jovem, recebeu um impulso para explorar suas habilidades manuais e o desenho e a pintura se mostraram o caminho mais prazeroso para ele. Diferentemente de muitos artistas de sua geração, Muccillo não procurou uma escola. Seu aprendizado formou das pesquisas literárias e das visitas a exposições e museus. A primeira influência marcante veio de Robert Bateman, que produzia animais da vida selvagem canadense com um realismo impressionante. Essa influência o acompanharia por muito tempo, até, anos mais tarde, adotar o que chama de um impressionismo profundamente controlado. Seus trabalhos atuais tem uma influência evidente do tonalismo e luminismo de pintores americanos do século XIX.

RENATO MUCCILLO - Island meadow at dusk - Óleo sobre tela - 27,9 x 27,9

RENATO MUCCILLO - Cut banks - Óleo sobre tela - 20,3 x 61


Muccillo ainda se rotula como um artista autodidata, que procura entender como é e se motiva com suas próprias descobertas. Foi uma decisão sua não ter professores, exatamente para não ter uma influência muito marcante. Ele considera que com sua intuição pode aprender tudo aquilo que precisa saber. O que parece ser uma decisão egoísta, é na verdade a opção de um artista que prefere ter uma jornada independente. E como ele mesmo afirma: “quero ver até onde posso ir.”


PARA SABER MAIS:


quarta-feira, 15 de junho de 2016

VELHAS GAMELEIRAS

Fase de acabamento da tela "Velhas gameleiras".

Entre o centro da cidade de Dionísio e uma montanha chamada Morro do Tatu, começa uma extensa planície, cortada pelo Ribeirão Mumbaça. Um lugar de terras férteis, onde animais encontram um capim sempre verdinho e também um dos lugares que mais gosto de pintar e fotografar. Foi uma série de fotografias feitas por lá em 2014 e uma sessão de plein air, realizada lá em 2015, que me inspiraram a estar pintando a tela “Velhas gameleiras”.



JOSÉ ROSÁRIO - Velhas gameleiras - Óleo sobre painel - 20 x 30 - 2015
Esboço realizado em plein air.

Foto de referência de 2014.

Depois de outras voltas ao local e mais uma série de esboços e fotografias, comecei a trabalhar na grande tela, que mede 63 x 154 cm. O trabalho foi realizado entre fevereiro e março desse ano e foi enviado ao Salão de Belas Artes de Piracicaba, e foi com ele que recebi duas premiações por lá: Medalha de Ouro e Prêmio de Aquisição. O trabalho agora faz parte do acervo da Prefeitura Municipal de Piracicaba, em São Paulo.

Detalhe 1

Detalhe 2

JOSÉ ROSÁRIO - Velhas gameleiras - Óleo sobre tela - 63 x 154 - 2016


PALETA USADA NA EXECUÇÃO DA OBRA:

Branco de Titânio (Winsor & Newton)
Amarelo claro permanente (Corfix)
Amarelo ocre (corfix)
Amarelo indiano (Corfix)
Laranja (Corfix)
Terra de siena natural (Corfix)
Terra de siena queimada (Corfix)
Vermelho francês (Corfix)
Sombra natural (Corfix)
Marrom Van Dick (Corfix)
Azul cerúleo (Corfix)
Azul de cobalto (Corfix)
Alizarin crimson (Winsor & Newton)
Verde viridian (Lefranc)
Verde óxido de cromo (Corfix)
Violeta permanente (Corfix)

sábado, 11 de junho de 2016

LAWRENCE ALMA-TADEMA

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um amante da arte romana
Óleo sobre painel - 55,9 x 84,5 - 1868

“Fazer da queda, um paço de dança.” Essa é uma famosa frase do escritor mineiro Fernando Sabino, e é interessante como a vemos assumida na vida de tantas pessoas, em várias partes do mundo, em épocas completamente distintas. Lawrence Alma-Tadema viveu quase um século antes de Sabino, mas ambos sentiam na alma, a força daquela expressão que tão bem representou a carreira dos dois. Foi por causa de uma doença, a tuberculose, diagnosticada ao jovem Alma-Tadema, quando tinha apenas 15 anos de idade, que sua vida tomou um novo rumo. Aquilo que acenava como uma queda, foi o paço que faltava para compor a dança de sua vida. Para recuperar da doença, o jovem foi colocado em repouso, onde tinha como opção apenas desenhar e pintar. Atividades que tinham muito pouco a ver com ele anteriormente, desenvolveram nele um gosto tão grande, que não teve dúvidas: após recuperar de sua doença, decidiu que queria seguir a carreira de pintor.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Primavera - Óleo sobre tela - 178,4 x 80,3 - 1894

Lourens Alma Tadema (posteriormente Lawrence Alma-Tadema) nasceu no dia 8 de janeiro de 1836, na aldeia de Dronrijp, província de Friesland, ao norte da Holanda. Nascido do segundo casamento de seu pai, era o sexto filho de Pieter Jiltes Tadema e o terceiro filho de Hinke Dirks Brower. Pelas intenções da mãe, Lawrence seria encaminhado para os estudos de Direito, mas em 1851, ele sofreu um colapso nervoso e mental. O diagnóstico de tuberculoso fez a família rever os planos para seu futuro. Tendo o desenho e pintura como auxiliares no tratamento de recuperação da enfermidade, acabou tomando gosto por eles. Um ano depois, ele entrou para a Academia Real da Antuérpia, na Bélgica.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um antigo festival - Óleo sobre tela - 77 x 177 - 1870

Os quatro anos que estudou naquela instituição renderam muitos frutos para sua recente carreira. Conquistou prêmios respeitáveis por lá e ainda pode estar mais próximo da companhia do professor Louis Jan de Taeye, do qual se tornou um assistente. Mesmo que de Taeye não fosse uma referência excepcional de pintor, tinha um gosto refinado por história e isso despertou a atenção de Lawrence. Ficou especialmente atraído pela cultura merovíngia, que explorou em suas pinturas por um bom período e o trouxe uma fama especial por aquela característica.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Rivais inconscientes - Óleo sobre tela - 45,1 x 62,8

Em 1858, Alma- Tadema passou uma temporada em Leewarden, antes de se estabelecer em Antuérpia. Ali, trabalhou nos estúdios de Baron Jan August Hendrik Leys, um dos mais conceituados espaços artísticos da Bélgica, naqueles tempos. Foi naquele ambiente que produziu a obra “A educação dos filhos de Clovis”. Muito aclamada entre os críticos e visitantes do Congresso Artístico de Antuérpia, podemos considera-la como a obra-alicerce de sua reputação e fama.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O discurso
Óleo sobre painel - 40,6 x 25,4

Fazer pintura com referência histórica requer muita disciplina. Há toda uma pesquisa que envolve cada tema escolhido para representar, como mobiliário, vestuário, utensílios, hábitos de cada povo... O assunto com a cultura merovíngia era atraente para Alma-Tadema, mas não muito atraente para o público, que preferia culturas mais sofisticadas e exóticas, como a egípcia e grega. Foi quando Alma- Tadema decidiu montar seu próprio ateliê e explorar com mais acuidade o tema de culturas europeias clássicas.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O encontro de Moisés - Óleo sobre tela - 137,7 x 213,4 - 1904

O ano de 1863 traria mudanças para a vida de Alma-Tadema. Logo que iniciou o ano, faleceu a sua mãe e pouco depois da metade do ano, casou-se com Marie-Pauline Gressin Dumoulin. Eles passaram sua lua-de-mel em Florença, Roma, Nápoles e Pompeia. Era o ingrediente que faltava para que ele decidisse de vez a sua carreira. À partir dali, aumentaram ainda mais os seus interesses pelas culturas romanas e gregas e estas ocupariam os seus trabalhos para as próximas décadas.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Num jardim de rosas - Óleo sobre painel - 37,5 x 50,7 - 1890

A carreira ia se solidificando, assim como solidificava também o interesse pelas culturas antigas. Alma-Tadema pesquisava ainda mais, a fim de que suas composições ganhassem maior veracidade. Perfeccionista, tinha uma atração especial pela representação do mármore, que em suas obras tem realmente uma representação especial. Da união com Marie-Pauline nasceram três filhos. O primeiro viveu poucos meses, vítima de varíola, e os outros dois desenvolveram habilidades artísticas mais tarde. Ernest Gambart, um importante editor e negociante de arte teve uma participação importante nessa fase da vida de Alma- Tadema, encomendando uma série de trabalhos para ele, assim como conseguindo introduzir seus trabalhos em Londres.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O que é aquilo?
Óleo sobre painel - 29,2 x 22,5 - 1863

Em maio de 1869, Marie-Pauline faleceu, vítima de varíola. Ela tinha apenas 32 anos, e sua morte deixou Alma-Tadema desconsolado e deprimido por um longo tempo. Até a pintura, ele deixou de praticar por quatro meses. A depressão acarretou outros problemas, que os médicos locais não conseguiam diagnosticar. Sob conselhos do editor Gambart, Alma- Tadema foi encaminhado para Londres, a fim de consultar outros especialistas. Durante o tratamento, Alma-Tadema conheceu um artista muito influente nos meios britânicos, Ford Madox Brown, a quem passou a visitar regularmente. Foi em seu estúdio, que conheceu a jovem Laura Theresa Epps, de apenas dezesseis anos, e que mudaria sua vida.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um estúdio romano - Óleo sobre painel

Dois fatores influenciaram bastante na mudança de Alma-Tadema para Londres: o início da guerra Franco-Prussiana, em julho de 1870 e a lembrança constante de Laura Theresa em sua cabeça. Ele chegou a Londres no mês de setembro daquele ano e a vida começava a encontrar seus trilhos. A ideia de dar aulas para ela foi um pretexto encontrado para assedia-la com mais frequência. Numa dessas sessões, acabou pedindo sua mão em casamento. Inicialmente contrário ao pedido, o pai da jovem decidiu que deveriam se conhecer melhor. Eles se casaram em julho de 1871. Ela, também artista, adotou o sobrenome Alma-Tadema, que lhe rendeu bons frutos na carreira. O novo casal não teria filhos. Laura cuidou muito bem dos dois filhos que vieram com Alma-Tadema. Ela também seria modelo para várias composições, uma delas, em especial, é “Mulheres de Amphissa”.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Mulheres de Amphissa - Óleo sobre tela - 122,5 x 184,2 - 1887

Londres se tornaria a morada definitiva para Alma-Tadema. A escolha não poderia ter sido melhor. Ali encontrou fama e respeito, tornando-se inclusive um dos artistas mais bem-pagos de seu tempo. O contato com vários artistas ditos pré-rafaelitas iluminou sua paleta e deu um novo impulso em sua carreira. Em 1872, numa nova viagem de 5 meses e meio pelo continente europeu, Alma-Tadema aprofundou ainda mais suas pesquisas sobre culturas antigas. Colecionava fotografias, documentos, utensílios, visitava locais ainda bem preservados.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Uma galeria de esculturas
Óleo sobre tela - 1867

Em 1876 ele alugou um ateliê em Roma e produziria importantes obras no período que esteve por lá. O mais importante prêmio almejado por um artista foi concedido a ele em 1879, quando foi considerado um acadêmico completo. Três anos depois, uma grande retrospectiva de sua produção foi realizada na Galeria de Grosvenor, em Londres, com cerca de 185 trabalhos. O retorno para Roma, em 1883, tinha como intenção principal, visitar as novas escavações de Pompeia. Estas lhe renderam novamente muitas fontes para composição nos novos trabalhos.

LAWRENCE ALM-ATADEMA - Amo-te, ama-me - Óleo sobre painel - 17,5 x 38 - 1881

O preciosismo na composição continuava mais intenso do que nunca. Para pintar o famoso quadro “As rosas de Heliogábalo”, centenas de flores eram enviadas semanalmente da Riviera francesa, a fim de que conseguisse uma originalidade ímpar em sua tela. A cena era baseada no episódio da vida de um imperador romano que tentou sufocar seus convidados em uma orgia de cascata de rosas. Foi um dos seus períodos mais férteis e do qual originaram obras muito importantes.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - As rosas de Heliogabalus
Óleo sobre tela - 132,1 x 213,9 - 1888

Do ponto de vista pessoal, Alma-Tadema era extrovertido e muito caloroso. Além de profissional acima de tudo em sua carreira, também era um ótimo negociante. Não é à toa a sua fama de um dos mais ricos artistas do século XIX. Corpulento, era amante de um bom vinho, mulheres e festas. Mesmo com a diminuição de suas atividades, em parte por causa da saúde, continuou colecionando títulos e honrarias até os anos finais do século XIX. Para descansar um pouco das pinturas, começou a desenhar móveis e fantasias, além de projetos para teatro. Os anos iniciais de 1900 ainda teriam muitas obras suas, dentro daquele tema que considerava favorito: mulheres em terraços, com vista para o mar. “O encontro de Moisés” foi uma das obras mais marcantes dessa época.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Pratas favoritas
Óleo sobre tela - 69,1 x 42,2 - 1903

No dia 28 de junho de 1912, Alma-Tadema faleceu, vítima de uma ulceração do estômago. Ele está sepultado numa cripta na Catedral de Saint Paul, em Londres. O mundo perdia um de seus artistas mais dedicados, que jamais se rendeu aos modernismos que começavam em seu tempo. Por mais de sessenta anos de carreira, deu ao seu público exatamente o que ele queria: pinturas bem elaboradas, com pessoas bonitas e em ambientes clássicos. Inacreditavelmente, seu legado artístico quase desapareceu, após sua morte. Críticas nada necessárias, feitas por alguns jornais e críticos de arte, deixaram seus trabalhos quase que no anonimato durante várias décadas. Somente à partir da década de 1960, os trabalhos de Alma-Tadema retomaram o prestígio que nunca deveriam ter perdido. Hoje, ele é considerado como um dos principais artistas com temas clássicos do século XIX, que fez, como poucos, um verdadeiro estudo arqueológico, para demonstrar veracidade e exatidão nas obras que criava.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Auto-retrato
Óleo sobre tela - 65,7 x 52,8