quinta-feira, 26 de novembro de 2015

MARIANA: QUE FUTURO NOS ESPERA?



Ainda é preciso falar sobre o crime ecológico de Mariana. Não esquecer o que fizeram à natureza e que ainda nos trará amargas consequências. Deixo abaixo, um texto redigido pelo Naelson Almeida. Traduz a insatisfação de alguém que, mesmo distante, também sofre os horrores da tragédia e sabe que ela ainda nos acompanhará por muitos anos. Mas, ele nos mostra a tragédia com uma visão diferenciada. Somos todos vítimas e cúmplices ao mesmo tempo.
Hoje, na época da publicação dessa matéria, a mancha de lama já havia atingido o litoral sul da Bahia. O turismo do litoral capixaba e baiano já sofrem com as consequências. Muitas histórias amargas ainda serão contadas:

"A tragédia de Mariana já é tida como o pior desastre ambiental do Brasil, com consequências que vão impactar a população e um ecossistema inteiro por anos a fio. Logo que as noticias começaram a se disseminar, a caça aos responsáveis se instalou e mergulhamos numa bolha de competição, raiva e culpas.
Mas, sem desmerecer a dor e sofrimento daqueles que a lama impactou, digo que não há culpados personificados, pessoas em quem podemos jogar toda a responsabilidade pelo ocorrido. Não há para quem apontar o dedo que não seja para nós mesmos. Somos todos vitimas e ajudantes da tragédia.
Antes do tsunami de lama varrer cidades inteiras, já havia lagos enormes, represas gigantescas, espalhadas pelo Brasil e o mundo, desenhadas para armazenar rejeitos, refugos, resíduos tóxicos, para os quais não vemos utilidade. E nós não dissemos nada, achamos normal.
Antes das barragens existirem, aceitamos a instalação de uma indústria que impacta a biosfera, que abre buracos enormes no chão, que move montanhas para tirar de lá os materiais que constroem nossa identidade. E nós não dissemos nada, achamos normal.
Seguimos sustentando essa indústria com o nosso padrão de vida, comprando e consumindo desenfreadamente, sem pensar no impacto que a nossa fome por novos “brinquedos” causa no mundo. E nós não dissemos nada, achamos normal.
Compramos e consumimos sendo levados pela nossa carência e ansiedade, pela nossa necessidade de novidades, pela nossa incapacidade de ver os impulsos surgindo e nos arrastando. E nós não fizemos nada, achamos normal.
Quando digo que nada fizemos, quero dizer que não desenvolvemos a curiosidade de entender como nossa mente opera e como isso interfere na nossa ação no mundo. Não desenvolvemos nossa atenção e consciência para sacar que nós não precisamos daquilo que as propagandas vendem como felicidade. Não duvidamos da nossa aposta de felicidade em coisas e condições externas. Não suspeitamos que, desenvolver nosso consumo consciente e economia da atenção possa ajudar a resolver vários dos problemas modernos.
Cada um de nós tem um pouco da lama de Mariana respingada no rosto.
Que possamos usar das imagens e informações do desastre para fazermos um autoexame e questionar nossa participação nisso tudo. Que possamos aproveitar que o impacto e terror ainda estão frescos nas nossas mentes para tentarmos simplificar mais e mais a vida, o cotidiano, o tempo e as necessidades materiais, como forma de ajudar o planeta e salvar vidas no futuro.
Que possamos cultivar a autocompaixão, a compaixão pelos que foram atingidos pela tragédia, a compaixão pelos que estão ajudando, mas também, que possamos cultivar a compaixão pelos empregados e dirigentes das empresas envolvidas, que estão acometidos pelos mesmos obstáculos que nós.

Este não é um chamado para volta à idade da pedra e nem é uma tentativa de relativizar as devidas responsabilidades, é apenas a lembrança de que podemos respirar e lembrar de Mariana antes da nossa próxima compra." (Naelson Almeida)




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O MUNDO FICOU SEM LUGAR PARA SE ESCONDER...

JOSÉ ROSÁRIO - Passos largos do destino
Óleo sobre tela - 80 x 120 - 1999
(Num período de fase surrealista)

Que essas linhas suportem o meu desabafo! Entalado, oculto, solidário a muitos outros gritos mudos por aí. É que às vezes, ver e ouvir faz transbordar a cota do sentir. E não tem sido fácil nos últimos dias...
Há pelo mundo uma maldade que não dorme e uma ganância que não se sacia. O valor à vida se perdeu em enxurradas, em tiroteios, em manobras políticas, em estratégias de marketing... Os homens fazendo do nada o esteio mais forte e, cada vez mais, crentes que estão no caminho correto.
E não há onde se esconder! Hoje, a cidade que moro, de apenas 9 mil habitantes, teve sua agência bancária explodida pela segunda vez. Os lugares que pareciam paz e sossego tornaram-se o alvo perfeito. É que aqui, a maldade ainda engatinhava. Mas, dizem que agora as coisas estão globalizadas. E será que existe algo mais global que a maldade?
A tragédia ambiental com o Rio Doce nos mostra que a maldade e a ganância estavam sempre ali, sorrateiras. No período de maior crise hídrica do país, bilhões de metros cúbicos de água doce são usados para lavar minério, acumulados em gigantescos reservatórios de lama, enquanto a vida em volta míngua e padece. E o que dizer da fauna e flora? As vítimas mais inocentes de toda essa tragédia. Cidades onde a fartura de água era o orgulho, agora são abastecidas com carros-pipas. Há coerência nisso? Então me explique qual é, pois acho que já não sei mais o sentido dessa palavra.
No Quênia, Síria, Nigéria, França, vidas são tiradas sem o mínimo de ressentimento. E o que é pior, em nome de Deus.
Sobreviver, de todas as formas, virou algo imperativo. Liberdade não é mais uma questão de desejo, mas de oportunidade. Podemos até querer ser livres, mas há tanto poder que decide isso antes de nós...
As pessoas de bem vão ficando encurraladas. Há que se ter mente firme e propósitos sólidos. Fé, acima de tudo. Só para se ter uma ideia, a taxa de suicídio no Brasil aumentou em mais de 40% nos últimos 5 anos.
É preciso ter esperança de novos tempos. Arregaçar as mangas e “esperançar”, não apenas “esperar”, como já salientou muito bem um filósofo. Construir um mundo melhor é árduo e a tarefa não será fácil. Mas é a melhor herança que qualquer um de nós pode deixar. Começa com gestos simples: fechar a torneira, dizer bom dia, sorrir e estender a mão sem segundas intenções. Antes de tudo, guarde o seu coração, vai precisar dele para tempos ainda mais severos.

 Dentro de cada um de nós há um bem que anda precisando de exercício!

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

EDMUND BLAIR LEIGHTON

EDMUND BLAIR LEIGHTON - God speed - Detalhe

EDMUND BLAIR LEIGHTON - God speed
Óleo sobre tela - 160 x 116 - 1900

Assim como Laurence Alma-Tadema se tornou a maior referência sobre pintura clássica, Edmund Blair Leighton tornou-se igualmente a referência obrigatória quando se trata de pintura com temática medieval. Não que tenha vivido na Idade Média, muito pelo contrário. Influenciado pelo movimento Pré-Rafaelita que ocorreu na Inglaterra, entre os anos finais do século XIX e início do século XX, Leighton era mais um artista, como os desse movimento, que fazia questão do desenho meticuloso, belas composições e cenas bem românticas. Pela qualidade do conjunto apresentado dentro dessa proposta, acabou se tornando uma espécie de líder natural entre os artistas de sua geração.

EDMUND BLAIR LEIGHTON - Fitas e laços para belas garotas - Detalhe

EDMUND BLAIR LEIGHTON
Fitas e laços para belas garotas
Óleo sobre tela - 106,6 x 55,8 - 1902

Produzindo na geração posterior a Rosseti e Millais, os dois grandes nomes do movimento Pré-Rafaelita, Leighton continuou com a mesma proposta dos seus antecessores: retratou contos de cavalarias com seus cavaleiros heroicos, donzelas, reis e vilas medievais em seus mais rebuscados detalhes. Há em suas obras, a mesma intensidade evocada nas poesias de Tennyson e Malory, escritores que influenciaram diversos outros artistas desse período, sendo um deles William Watherhouse. Há quem afirme que as obras de Leighton são as referências mais seguras para os cineastas que produzem sobre esse período.

EDMUND BLAIR LEIGHTON - A embarcação
Óleo sobre tela - 103 x 145

EDMUND BLAIR LEIGHTON - Piquenique
Óleo sobre tela - 55 x 83 - 1920

EDMUND BLAIR LEIGHTON - Um cortejador galante
Óleo sobre tela - 1890

Edmund Blair Leighton nasceu em Londres, a 21 de setembro de 1853 e foi o único filho do casal Charles Blair Leighton e Catherine Boosey. O pai era um respeitado pintor de retratos. Não bastasse a herança genética e o ambiente familiar para influenciar, Edmund criou cercado de artistas. Muitos deles, trabalhavam ou estudavam no estúdio de seu pai. A influência não duraria muito tempo. Charles Leighton deixou esposa e filho, falecendo prematuramente com apenas 32 anos. Edmund foi encaminhado para um internato em St. John Wood e mais tarde encaminhado para o College School University. Ele foi desencorajado pela mãe a se tornar um artista e seguir a carreira mercantil. Mas, havia algo em suas veias difícil de ignorar. Leighton trabalhava durante o dia na cidade e à noite frequentava a Escola de Arte Kensington.


EDMUND BLAIR LEIGHTON - Tristão e Isolda - Óleo sobre tela - 1902

EDMUND BLAIR LEIGHTON - A dedicação - Óleo sobre tela - 1908

Com apenas vinte e um anos tomou a decisão mais importante de sua vida: deixou o trabalho de escritório e se lançou no mundo da arte com bastante determinação. Em 1874, já era aceito na Escola da Academia Real, onde se tornou um aluno de destaque. Duas fases distinguem nitidamente os trabalhos de Leighton: cenas de encontros do século XVIII e o tema mais dramático de heróis e heroínas medievais. Esses últimos são os que mais identificam a sua produção a nível mundial. Leighton estudava meticulosamente cada cena que elaborava e fazia questão de dar o máximo de humanidade aos seus personagens. Ele recorreu várias vezes a poesias e romances para conseguir intensidade em seus temas.


EDMUND BLAIR LEIGHTON
O pequeno príncipe sendo apresentado ao trono real
Óleo sobre tela - 1904

EDMUND BLAIR LEIGHTON - Num tempo de perigos - Óleo sobre tela - 1897

Falecido a 1 de setembro de 1922, os trabalhos de Leighton continuaram influenciando muitos artistas ingleses por várias décadas. O movimento Pré-Rafaelita, embora tenha durado pouco tempo com os seus fundadores, encontrou seguidores até a metade do século XX, nas influências diretas em movimentos como Simbolistas, Arts and Crafts e Classicistas.


EDMUND BLAIR LEIGHTON - Um charme que encanta
Óleo sobre tela

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

JORGE EDUARDO

JORGE EDUARDO - Janela da Vista Chinesa - Óleo sobre MDF - 73 x 180 - 2010

Para certos trabalhos, fica sempre aquela indagação: será pintura ou retrato? Uma dúvida que muitos artistas consideram-na cruel e muitos outros a consideram até um grande elogio. Para os artistas classificados como hiper-realistas, acredito que essa dúvida deve ser prazerosa, uma vez que a intenção é exatamente essa, driblar o espectador ao máximo possível, deixando nele aquela sensação incômoda entre estar diante de uma obra de arte pintada a mão ou uma reprodução fotográfica ampliada. Jorge Eduardo é um especialista nesse gênero de pintura. Confundir os nossos sentidos, com a precisão de suas pinceladas, é o seu ponto forte.

JORGE EDUARDO - Ouro Preto - Óleo sobre tela - 60 x 90 - 2007

JORGE EDUARDO - Mambucaba - Óleo sobre madeira industrial - 35,2 x 95 - 1993

Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1936, é hoje um artista aclamado e respeitado a nível internacional. Conquista adquirida a passos firmes, por um artista que começou como autodidata e se firmou pela perseverança e imposição de um bom trabalho. Não há quem não se emocione diante de suas obras. Mesmo os mais céticos ao hiper-realismo, reconhecem nele a figura do artista obstinado, ciente dos objetivos que deseja alcançar.

JORGE EDUARDO - Avenida Paulista
Aquarela sobre papel - 28 x 40 - 1997

JORGE EDUARDO - Feira da Glória, Rio de Janeiro - Aquarela sobre papel - 28 x 36 - 1997

JORGE EDUARDO - Pelada, Cabedelo, PB
Aquarela sobre papel - 28 x 40 - 1998

Foi uma primeira viagem a Europa, de onde trouxe diversos estudos em aquarelas e desenhos dos locais que visitava, que o incentivou a seguir pelas artes. Após trabalhar um período com Arquitetura, profissão pela qual se graduou, decidiu lançar-se em outra carreira, a publicidade, onde ficou até 1977. A pintura já havia entrado em sua vida desde 1972, sempre de forma paralela, mas consistente. Foi somente em 1981, que ela se tornou sua opção definitiva de profissão. Conheceu pessoas importantes, como o marchand Jean Boghici, que lhe abriu os caminhos certos para mostrar os primeiros trabalhos.

JORGE EDUARDO - A Big Apple (ilujeto)
Acrílica sobre MDF - 81,3 x 79,5 - 1990 - Museu Metropolitano de Nova York

JORGE EDUARDO - Bandeira do Brasil (ilujeto) - Acrílica sobre MDF - 150 x 200 - 1995

Uma característica a ser destacada na produção de Jorge Eduardo é a sua versatilidade. Trabalha com técnicas diversificadas, usando os mais variados suportes. Conquistou respeito e curiosidade inicial pelos seus trabalhos projetados para janelas, que coletava como material de demolição, e que serviam como molduras que aumentavam ainda mais a sensação de realidade em suas obras. Sempre inovador e brincando com o que fazia, desenvolveu uma linha de ilujetos. Obras-objetos tridimensionalmente ilusórias, recortadas em placas de MDF, que passaram a ser uma espécie de marca registrada para sua produção.  Foi em 1991, com a obra “Big Apple”, exposta em Nova York e adquirida pelo Museu Metropolitano, para o acervo daquela instituição, que essa série ganhou mais consistência. Uma obra que marcou definitivamente sua carreira foi “Bandeira do Brasil”, doada ao presidente Fernando Henrique Cardoso, na época de seu mandato, e que compõe atualmente o cenário para pronunciamentos oficiais, da Sala de Imprensa do Palácio do Planalto.

JORGE EDUARDO - Janela da Ilha - Óleo sobre madeira industrial - 61 x 112 - 1992

JORGE EDUARDO - Janela da Île St. Louis - Óleo sobre madeira industrial - 107 x 122 - 1991


O artista segue produzindo, sempre alternando em retratos, paisagens urbanas e litorâneas, ilujetos e suas tradicionais janelas. Continua encantando público e crítica e consolidando uma carreira que conquistou com esforço e méritos.


PARA SABER MAIS: