sábado, 28 de março de 2015

STANHOPE ALEXANDER FORBES

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Tarde na ponte - Óleo sobre tela - 61 x 76 - 1937

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Woolpack Inn - Óleo sobre tela - 55,8 x 76,2 - 1937

Stanhope Alexander Forbes é o meu artista preferido da resposta britânica ao movimento impressionista francês. Ainda que ele não tenha sido o mais famoso artista britânico do movimento; nomes como Sargent e Lavery são sempre mais lembrados; gosto especialmente dos trabalhos de Forbes pelo conjunto com que conseguiu reunir, tanto de técnica, temas e propostas. Há algo diferenciado nele! Sua luz é brilhante e sua paleta não tem a austeridade de muitos dos seus conterrâneos. Mesmo para as cenas nubladas e noturnas, há sempre uma iluminação especial.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - O barco seine - Óleo sobre tela - 106,7 x 157,5 - 1904

STANHOPE ALEXANDER FORBES
Dia de gala em Newlyn, Cornwall
Óleo sobre tela - 106 x 136 - 1907

Foi ele mesmo que afirmou, em seu Tratamento de Arte da Vida Moderna: “A beleza está na luz, tanto na atmosfera que rodeia as coisas, como nas suas formas”. Percebe-se que seguia isso como uma lei, ou melhor, incorporou o espírito daquilo que afirmou, com propriedade e convicção. O movimento impressionista nas Ilhas Britânicas foi tímido, se comparado à França, mas ainda assim, conseguiu arrebanhar um número considerável de artistas, e muitos deles são hoje mundialmente reconhecidos. O mais curioso é que o Impressionismo, nos seus anos iniciais, teve inspiração num pintor inglês, John Constable, numa passagem de Monet pelo país. Mas, a Grã-Bretanha sempre se fechou demais às modernidades nas artes plásticas e o Impressionismo sempre foi aceito com reservas.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Indo à escola, Paul, Penzance
Óleo sobre tela - 51 x 61 - 1917

STANHOPE ALEXANDER FORBES - O lago
Óleo sobre tela - 49 x 61,5

O hábito de pintar ao ar livre também era um exercício que Forbes não abria mão, embora gostasse do trabalho em estúdio. Até no estúdio, admirava as cores quentes e a espontaneidade das composições. Mesmo que tenha uma leitura impressionista em muitas de suas obras, o trabalho de Forbes nos remete mais à escolas naturalistas, como a de Barbizon. Suas cenas tem um realismo que conforta e é impossível ficar imparcial diante delas. Há vários atributos para o trabalho de Forbes, mas uma definição de Norma Garstin (artista e crítica de arte de sua época) me parece a mais coerente: “Ele é um bom pintor, não sentimental, e há em seus trabalhos um senso de sinceridade que agrada a todos”.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - À saúde da noiva
Óleo sobre tela - 152,4 x 200 - Tate Gallery, Londres

Stanhope Alexander Forbes nasceu a 18 de novembro de 1857, em Dublin, na Irlanda. Suas primeiras formações artísticas se deram na Faculdade de Dulwich, com John Sparkes. Após uma estada na Irlanda, onde realizou trabalhos locais até 1879, Forbes partiu para Paris, onde ficou entre 1880 e 1882, estudando no ateliê particular de Léon Bonnat, em Clichy. Sua técnica, bem como estilo, foram herdados de outro artista, Jules Bastien-Lepage, que usaria por toda sua vida. Em 1881, conheceu o artista Henry Herbert La Thangue e passaram uma temporada pintando ao vivo em Cancale, na Bretanha. Sua passagem por essa região mexeu tanto com ele, que no seu retorno à Inglaterra, daria novos rumos à sua carreira.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Olhando longe - Óleo sobre tela

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Venda de peixes em uma praia de Cornish
Óleo sobre tela - 121 x 155

Em 1874, instala-se na cidade de Newlyn, exatamente por conter as características francesas da Bretanha, que tanto o seduziram na sua viagem. Apaixonou tanto pelo lugar, que acabou montando por ali uma espécie de retiro de artistas, uma colônia de amantes da arte ao ar livre e que ficaram conhecidos como a Escola de Newlyn. Falar da vida de Forbes, sem citar a Escola de Newlyn, é como não falar sobre ele. Newlyn é um pequeno porto de pesca que encontra-se cerca de uma milha e meia de Penzance, na costa sul da península Penwith de Cornwall. Como tem um acesso fácil a Londres, por uma via férrea, e na época era um local de estadia bem econômica, acabou se tornando um paraíso para um grande grupo de artistas ingleses.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Jovens pescadores - Óleo sobre tela - 1930

STANHOPE ALEXANDER FORBES - A forja
Óleo sobre tela - 155,1 x 117,5

A região de Newlyn era especial em vários aspectos. Ainda estava quase intocada pela Revolução Industrial e possuía uma beleza natural exuberante. Penhascos de granito e mares espumantes, onde os pescadores levavam uma vida sem pressa e tanto inspiraram aos artistas que lá passavam. Walter Langley foi o primeiro artista residente no local, mas o movimento só ganhou força com a chegada de Forbes. Ao fim do ano de 1884, já estavam quase 27 artistas morando no local, além dos muitos artistas temporários, atraídos pelos ecos da Escola de Newlyn e que também se encantavam pelo lugar.

STANHOPE ALEXANDER FORBES
Sol e sombra, uma vila de comerciantes próxima a Newlyn Harbour
Óleo sobre tela - 61 x 81 - 1909

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Praça do mercado
Óleo sobre tela - 91 x 73 - 1921

Vários trabalhos colocaram Forbes e todo o grupo em evidência e, em 1892, ele se associou à Academia Real e em 1895, tornou-se o presidente-fundador e curador da Galeria de Arte Newlyn. Também fundou, em 1899, a Escola de Arte Newlyn. Foi uma iniciativa que atraiu inclusive novos investimentos para a região, que havia passado aquela década com várias crises na Indústria de Pesca. Ele produziu muitos trabalhos naquele período e sentia realizado em todos os aspectos. Mas, como todo movimento artístico, esse também foi perdendo forças, no início do século XX, quando alguns artistas buscavam novos rumos. Forbes, porém, continuou por ali.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Na ordenha
Óleo sobre tela - 51 x 61 - 1917

STANHOPE ALEXANDER FORBES - No quintal - Óleo sobre tela - 62,2 x 77,4 - 1938

Em 1910, Forbes foi eleito um membro da Academia Real e teria sua carreira ainda mais solidificada dali em diante. A consagração chegaria em 1933, quando conquistaria a honraria de Real Acadêmico Sênior.

Ele faleceu em Newlyn, no local que escolheu para sua vida, a 2 de março de 1947.

STANHOPE ALEXANDER FORBES - Ponte Relubbus
Óleo sobre tela - 51 x 76 - Pintada entre 1928 e 1930

terça-feira, 24 de março de 2015

RENÊ TOMCZAK


RENÊ TOMCZAK - Paisagem - Óleo sobre tela

Há cerca de 3 anos, cheguei até os trabalhos de Renê Tomczak pela apresentação de Vinícius Silva. De maneira virtual, somente. Junto com a indicação, Vinícius fez questão de frisar: “preste atenção na proposta e coerência desse artista, principalmente com relação à sua escolha de temas e técnicas”. Não é uma indicação qualquer! Tenho certeza de que Vinícius é consciente de sua contribuição ao paisagismo contemporâneo brasileiro e sua dica, por si só, já me despertara curiosidade. Sua indicação teve realmente uma cota de importância, mas, logo depois das primeiras olhadas, vi que ela não só se tratava do reconhecimento legítimo do olhar treinado de um artista em relação a outro, os trabalhos e propostas de Renê Tomczak conquistam logo na primeira olhada, mesmo sem indicações.

RENÊ TOMCZAK - Cena de litoral - Óleo sobre tela

RENÊ TOMCZAK - Arredores de Curitiba - Óleo sobre tela

Não poderia deixar de mencionar o que mais me chamou atenção, logo que fui me aprofundando sobre o artista: o fato de que ele não abre mão de sair do conforto de seu ateliê e ir a campo, sob quaisquer circunstâncias. Aliás, nada parece ser mais confortante para ele do que as infinitas possibilidades de um campo aberto como desafio. Há nele, a consciência convicta de que só a natureza é um mestre em toda sua completude. Todas as teorias e cálculos assimilados numa cadeira de escola só se solidificam com a observação dos mesmos, no mundo à sua volta.




O artista teve um trajeto acadêmico seguro, que culminou com a formação pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. E, embora precise do estúdio para lecionar e também trabalhar, sempre teve preferência ao trabalho em plein air, geralmente nos arredores de Curitiba, sua cidade natal. Em seu blog, ele nos mostra que gosta de fazer isso nas mais diversas técnicas: óleo, aquarela, lápis... Não desperdiça uma caminhada sequer e a empolgação que emana disso é contagiante. “Viaja horas para encontrar a colina, o pinheiro, a onda, o céu que atrai seu olhar. Uma imersão no panorama, horas registrando sob sol ou chuva sua interpretação do lugar, um longo estudo de cores, formas e texturas que devolvem para casa, no fim do dia, um pintor exausto e satisfeito”. Não poderia deixar de citar essa bela imagem do artista, concebida pela Jô Bibas, em sua página Arte Amiga.




Sua arte tem referências impressionistas e pós-impressionistas, mas há algo mais nela, não bastassem essas valiosas referências. Mesmo observando ao natural, ele pinta com o que a observação lhe desperta. O resultado, não é apenas a transposição fidedigna da imagem que está a sua frente. Há a sua interpretação, filtrando e emprestando sua dose de emoção captada naquele momento. Em cada obra, vai nos contando sua história, tentando nos despertar as mesmas sensibilidades que lhe foram despertadas. Queria classificar seu trabalho de Realismo Subjetivo. Dispense esse comentário, se achar conveniente. Ainda acho que um bom trabalho não precisa de rótulos, muito menos de infindáveis textos para explica-lo, assim como são os dele.

RENÊ TOMCZAK - Banco, Parque São Lourenço
Óleo sobre tela

RENÊ TOMCZAK - Paisagem
Aquarela sobre papel

RENÊ TOMCZAK - Parque Barigui
Óleo sobre tela

Ele começou a vender os seus trabalhos numa feira de artes, que acontece no Lago da Ordem, em Curitiba. Foi conquistando um público cativo e que soube reconhecer o verdadeiro valor de suas propostas. Esteve por lá cerca de 4 anos, até que a primeira individual, no Hotel Mabu, lhe abriu novos horizontes. Hoje, público e crítica se renderam a seus trabalhos e há quem o posicione como o sucessor de Theodoro De Bona, um grande nome do paisagismo paranaense.



Aprendi a admirar no artista, a sua vocação nata para a doação do que aprende e assimila com relação à arte. Ele gosta de mostrar como faz, suas etapas, seus resultados... Socializa tudo, sem encerrar em si os frutos do aprendizado adquirido. Desconheço se haja algo mais nobre, em qualquer profissão, do que se doar e permitir que outros trilhem seus caminhos.

RENÊ TOMCZAK - Campo preparado - Óleo sobre tela

RENÊ TOMCZAK - Nu - Óleo sobre tela

Recentemente, tive o privilégio de visualizar uma de suas obras pessoalmente, adquirida por uma admiradora de artes, em uma de suas passagens por Curitiba. Interessante como uma obra de arte nos é tão mais verdadeira quando estamos próximos a ela. Solidifiquei ainda mais os conceitos que suas obras me despertaram virtualmente.

Desejo sucessos a Renê Tomczak e o parabenizo pelos passos seguros e conscientes de sua trajetória.


PARA SABER MAIS:




sexta-feira, 20 de março de 2015

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabanas na mata - Óleo sobre tela

Entre uma obra e outra, nos momentos de folga, que geralmente acontecem à noite, tiro um tempo para pesquisas que invariavelmente me auxiliam. Resolvi voltar o olhar sobre a “paisagem” e a sua gênese como escola artística na América do Sul. Para minha surpresa, uma efervescente manifestação artística, voltada para essa escola, encontrou um território fértil por toda a América Latina, principalmente à partir da metade do século XIX. Um fator histórico é importante que seja destacado: as colônias existentes em todo o continente serviam como uma ponte para os vários artistas das metrópoles europeias e de suas colônias por aqui, ora recebendo expedições artísticas, ora enviando para as principais cidades europeias os mais notáveis artistas que por aqui surgiam.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Corredeiras - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Rio e pedras
Óleo sobre tela

A que se destacar também a grandiosidade de uma paisagem quase ainda intacta, pouco explorada e, acima de tudo, exótica para as visões dos colonizadores e artistas europeus. Por isso, diferentemente da tradição europeia em investir nas escolas figurativas e pinturas históricas, floresceu em terras sul-americanas um desejo natural por representar aquilo que elas possuíam de mais extraordinário, a paisagem.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Paisagem - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Vacas numa mata - Óleo sobre tela

Todos os países, ou colônias como ainda eram classificadas, receberam importantes missões artísticas e expedições de vários países europeus, até mesmo artistas de outras metrópoles. Artistas em busca de algo novo, assim como faziam outros que partiam para o Oriente Médio e norte da África. Essa presente matéria quer fixar em especial na escola paisagística da Colômbia, e mais em especial ainda, sobre as obras de um dos mais notáveis artistas do gênero naquele período, em todo o continente: Ricardo Borrero Álvarez.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Neblinas na serra - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Fim de tarde
Óleo sobre tela

Já era quase final do século XIX, quando nasceu na Escola de Belas Artes de Bogotá, a Cadeira de Paisagem. Tinha uns propósitos parecidos com as Escolas de Paisagens que surgiam em várias partes do mundo: tirar a pintura dos ateliês e leva-las a campo. Práticas herdadas das ideias impressionistas que germinavam em muitas correntes artísticas. Isso tinha um ar de modernidade e era o que de mais audacioso parecia para aqueles tempos. De fato, não era uma missão muito fácil, romper um tradicionalismo estabelecido por várias gerações de artistas que viam na Pintura Histórica e Religiosa, o ápice do artista-modelo. Todos tinham como hábito o trabalho com pequenos formatos, que se mostravam muito práticos para os trabalhos externos ao ateliê. Borrero teria uma importância enorme nessa instituição.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Natureza morta - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabeça de carneiro
Óleo sobre tela

Diferentemente dos artistas de outras regiões do continente sul-americano, que escolhiam Paris e Roma para referências de estudo, os artistas colombianos preferiram a influência das escolas espanholas. Acredito que a língua tenha sido um fator que pesava sobre essa escolha, afinal, partir para Paris ou Roma exigia, além de uma boa bagagem artística já adquirida, o domínio de idiomas estranhos aos das colônias sul-americanas. Mas a Espanha também não devia em nada às escolas francesas e italianas. Carlos de Haes já era o consagrado paisagista espanhol que influenciava e arrebanhava um bando enorme de seguidores. É dele, a maior influência a todos os artistas colombianos daquele período, mesmo que não tenha sido diretamente.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Ruínas
Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁVAREZ - Um canto de jardim - Óleo sobre tela

Borrero se formou nesse período, em Sevilha, e aguçou ainda mais os aprendizados numa rápida estada em Paris, frequentando principalmente a Escola de Barbizon, reforçando a inclinação paisagística que já lhe era inerente. O Impressionismo e o Naturalismo lhe atraiam como tudo que sempre planejou para sua arte. Pensava em produzir algo naqueles moldes, livre, sem as mordaças das academias, isento de toda lição histórica ou moral. A nova arte que ele abraçou, e que também era nova por todas as partes, em nada tinha a ver com as considerações históricas ou políticas impostas pelas Academias. Pintava por prazer, enamorado somente com a poesia e a emoção.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma vila - Óleo sobre tela

Por causa dessa sua proposta audaciosa, de romper com as instituições e pintar por conta própria, pode-se dizer que foi um modernista, no termo inovador da palavra. Mas, pintava com a alma, acima de tudo. E isso conta muito, mesmo para os dito “anarquistas”. Tanto que suas obras eram procuradas avidamente por colecionadores burgueses, os mesmos que esperavam ansiosos pelas novidades dos grandes salões. Para uma Colômbia com vocação totalmente rural e que ensaiava seus primeiros contatos capitalistas, Borrero é considerado uma peça de suma importância. Poucos artistas, como ele, conseguem fazer uma transição de um país agrícola para as mentalidades modernistas que mudariam a história da arte, no início do século XX.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Pequeno regato - Óleo sobre tela

Borrero voltou para a Colômbia em 1898 e logo recebeu dos amigos o título de “pintor da terra quente”. Sabia como ninguém, admirar e interpretar todos os cantos de seu país, do verde luxuriante e selvagem de suas matas, bem como dos desfiladeiros, rios e cachoeiras que não saíam de sua retina. Tornou-se professor e chegou mesmo a dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, em Bogotá, por vários anos. Influenciou e motivou muitos outros artistas do país a adotarem como tema as belezas de sua terra. Não viveu muito, mas viveu intensamente.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma serra com correnteza - Óleo sobre tela


Ricardo Borrero Álvarez nasceu a 24 de agosto de 1874, em Gigante, departamento de Huila e faleceu em Bogotá, com 57 anos de idade. O modernismo já ganhara outras aspirações e estas certamente passavam longe das suas.