terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A ÁGUA E NOSSAS NOVAS ATITUDES

JOSÉ ROSÁRIO - Curva de rio - Óleo sobre tela - 90 x 150 - 2011

Quando eu era criança, cresci ouvindo que a terceira guerra mundial seria causada pela falta d’água. Ao mesmo tempo, na minha cabeça de criança, crescia também o temor de que, sendo o Brasil um dos grandes reservatórios do planeta, seríamos um alvo em potencial para invasão. De fato, a condição de uma das maiores reservas hídricas do planeta, lugar onde corre o rio mais volumoso do mundo, sempre nos deixou numa situação confortavelmente irresponsável. Os tempos mudaram e os temores de hoje são bem outros. Acreditava que a crise de abastecimento seria algo para um futuro bem distante, do qual eu já nem faria mais parte. Mas o futuro chegou rápido e aqui estamos nós, responsáveis por todos os nossos atos de agora em diante, como sempre fomos e nunca nos demos conta.

ALEXANDRE REIDER - Rio com pedras - Óleo sobre tela

Não há ser vivo nesse planeta que sobreviva sem ela. Os que não precisam dela diretamente necessitam de outros organismos para se hospedar, e estes certamente precisam dela. Nosso corpo é quase 70% constituído dela, o que nos faz crer que ela é bem mais íntima de todos nós do que podemos imaginar. Um ser humano completamente saudável pode sobreviver de 3 a 5 dias sem água, mas já perdendo completa sensação dos sentidos ao fim desse período. Ela está em tudo que consumimos! Qualquer alimento, mesmo aquele com o menor índice de hidratação, consumiu uma enorme quantidade de água até chegar ao seu estado de consumo.


JOÃO BOSCO CAMPOS - Nadando no lago - Óleo sobre tela

Gasta-se água para tudo! Produzir alimentos, na industrialização de todos os produtos, na limpeza, na construção... Difícil é encontrar uma atividade onde ela não esteja presente. A população mundial cresceu bastante no último século e o consumo de água cresceu desproporcionalmente muito maior a ela. Concluímos então que gasta-se água para tudo e um pouco mais. E que constatação cruel quando acontece somente ao vivenciarmos a sua falta... Estamos vivendo no Brasil uma crise hídrica sem precedentes. Por uma série de fatores, que inclui desde mudança ambiental a incompetências administrativas e uso irresponsável por todos nós, a crise de água é uma realidade que já se faz presente em grande parte do país, e pelo jeito, não vai embora tão cedo.

ALFREDO VIEIRA - Corredeira - Óleo sobre tela

Outro dia, estava lavando o carro com a água que havia colhido da máquina de lavar roupas e me perguntando porque não fiz isso há mais tempo. O que antes parecia um sinal de avareza é hoje uma questão de inteligência. Até quando vamos insistir na ideia estúpida de que é preciso valorizar algo apenas quando se perde? É uma condição nata do ser humano, dar valor somente àquilo que não tem mais. Precisamos repensar valores e atitudes, se é que queremos enfrentar as crises prometidas para o futuro sem muito sofrimento. E as atitudes são simples e começam com cada um de nós. Tente listar o que você mesmo poderia fazer em sua casa e seu trabalho para poder contribuir nesses momentos de crise. Que tal fechar a torneira enquanto escova os dentes? Ou o chuveiro enquanto se ensaboa? Lave as verduras e legumes em cima de um recipiente que colete a água, depois poderá aproveitá-la nas plantas do quintal ou do jardim... Esses são só alguns pequenos atos que podem formar grandes resultados.

ERNANDES SILVA - Beira de açude - Óleo sobre tela - 40 x 30 - 2014


Os fatores climáticos estão se alterando a passos largos, como já profetizaram muitos cientistas. Se somos responsáveis por isso já nem interessa mais, mas somos responsáveis por aquilo que faremos à partir do momento que tomamos conhecimento dessas mudanças. Não mudar as nossas atitudes e continuar com a irresponsabilidade com que agimos até aqui nos colocará num caos sem precedentes. Pequenas mudanças começam em mim, em você, em todos nós. E elas podem nos trazer um bem enorme!

VINÍCIUS SILVA - Cascata d'Anta - Óleo sobre tela - 90 x 60

6 comentários:

  1. Muito bom texto, caro José Rosário, com ilustrações de tirar o fôlego! O futuro chegou rápido e nos demos conta de que estamos em um passado nebuloso em muitas de nossas atitudes. Consumir excessivamente água é como consumir excessivamente todo o resto, de roupa a bens imóveis. É o mesmo mal consumista da civilização, só que agora algo até então alheio à civilização humana (a natureza) começa a dar um basta. Nós brasileiros estamos na idade da pedra neste campo. Se as chuvas voltarem, não aprenderemos nada; se a crise perdurar, teremos que nos reeducar.

    Um grande abraço, amigo.

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    1. Tocou num ponto que andei pensando, Abrão. Se as chuvas voltarem, corre-se o risco de cairmos de novo no comodismo. Ao mesmo, elas precisam realmente voltar. Precisamos urgentemente repensar nossas atitudes.
      Abraço, amigo!

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  2. Excelente texto e uma triste e verdadeira reflexão. Economizar virou parte da rotina, e o pensamento na crise hídrica é diário :/

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    1. Fico torcendo realmente para que seja uma rotina para sempre, Jéssica, mesmo em épocas de fartura.
      Um grande abraço!

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  3. Infelizmente é verdade. Que texto lindo.Parabéns

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    1. Obrigado por vir mais uma vez por aqui, Neide.
      Tudo de bom e grande abraço!

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