sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

LUIZ VILELA


Dentre as muitas virtudes da arte, nenhuma me parece mais nobre que a universalização do indivíduo que a promove: o artista, seja ele de qualquer área. Essa linguagem sem pátria, pode tanto levar os artistas desse país quanto receber vários outros de outras nações. Há uma espécie de democracia nata para aqueles que praticam a arte na sua mais verdadeira essência, e é nesses momentos que percebemos que fronteiras são nada mais que algumas linhas criadas num mapa. A arte em seu estado mais puro não conhece esses limites.
Felizmente, a internet tem tornado essas fronteiras e distâncias entre povos ainda mais inexistentes. Foi através dela que vim a conhecer os trabalhos de um brasileiro, radicado há décadas nos Estados Unidos. Em uma entrevista muito agradável, ele vem nos mostrar o que se tornou o seu “novo mundo”, e como a arte foi um fator determinante para a sua inserção nele.

LUIZ VILELA - Fishing in Milford - Óleo sobre tela

José Rosário - Onde nasceu e quando? 
Luiz Vilela - Eu nasci em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, em 1965.

José Rosário - Vi que começou pela Arquitetura, ainda tem alguma ligação com essa atividade? Trabalha exclusivamente com arte? Fale-nos um pouco sobre o começo com as artes:
Luiz Vilela: Eu me mudei para o Rio de Janeiro onde eu estudei Arquitetura e Urbanismo na FAU/UFRJ. Quando morava no Rio, trabalhei com Arquitetura, mas não me aprofundei muito no mercado, trabalhei mais fazendo perspectivas e “renderings” das fachadas dos projetos, e também com projetos de lojas e vitrines. O curso de Arquitetura me deu régua e compasso, foi muito bom para desenvolver a visão espacial, aprender geometria e perspectiva e história da arte. Ao mesmo tempo, eu frequentei o Parque Lage, fiz aulas com Roberto Magalhães e outros artistas. Ainda na faculdade comecei a ilustrar livros infantis para editoras brasileiras. Resolvi mudar para os EUA a partir de conselhos dos meus professores e tive minha aplicação aceita pelo Pratt Institute em Nova York para fazer curso de ilustração comercial. Cheguei em Nova York no verão de 1995 e logo após o término do curso, em 1997, eu fui contratado pelo departamento de arte da editora Golden Books para fazer design de livros - e ilustrações também: o fato de eu saber desenhar e pintar contribuiu para o sucesso na carreira. A maioria dos designers não têm este tipo de habilidade. Mesmo trabalhando com design gráfico eu nunca deixei de pintar e desenhar. No curso do Pratt eu aprendi muito sobre técnicas de pintura, desenho, aquarela e etc, o programa é muito rico e intenso... E o fato de morar numa cidade como Nova York é uma experiência sensacional, posso dizer que é um privilégio poder usufruir de todas as ofertas culturais que a cidade oferece. Eu frequentei (e ainda frequento) os museus para estudar os trabalhos dos mestres e copiá-los, assistir às palestras, aos espetáculos de óperas e balés do Lincoln Center e o BAM, por exemplo. Acho que tudo isto contribui para a bagagem cultural do ser humano e consequentemente reflete na forma de expressão do artista. Uma das grandes oportunidades que tive foi o fato de o prédio em Manhattan onde eu trabalhava ficar em frente ao prédio da The Arts Students League of New York (www.theartstudentsleague.org ) que é a escola de arte mais tradicional da cidade. Eu fiz aulas de modelo vivo com o pintor Ronald Sherr à noite, depois do expediente de trabalho. Mais tarde, a Golden Books foi adquirida pela Random House que hoje é o maior conglomerado de editoras que existe. Eu trabalhei como design gráfico de livros infantis durante 15 anos, até Outubro de 2012, quando saí para dedicar meu tempo exclusivamente à minha arte.

LUIZ VILELA - The boathouse - Óleo sobre tela

José Rosário - Há tanto tempo no mercado norte-americano, como vê a aceitação do artista estrangeiro por aí?
Luiz Vilela:  Eu costumo dizer que há lugar para todo mundo na América. Talvez pelo fato de eu estar aqui há muito tempo e ter entrado no mercado de arte relativamente como um nativo americano qualquer, eu não senti nenhum estranhamento pelo fato de eu ser estrangeiro. Quero dizer, eu sou inspirado pela paisagem americana do lugar onde moro e o meu trabalho retrata esta paisagem e arredores, portanto a reação ao meu trabalho no mercado de arte americano é normal. De vez em quando me perguntam de onde sou por causa do nome e do modo de falar. Eu conheço artistas de vários lugares do mundo que mostram o trabalho deles aqui, em competições internacionais e a reação é natural - eu acho que se o artista desenvolve um trabalho bem feito e sincero as barreiras culturais desaparecem. 

LUIZ VILELA - Fur-portrait of Donald Becker - Óleo sobre tela

José Rosário - Há no Brasil uma espécie de valorização excessiva das artes de vanguarda, por parte das instituições e galerias. Mesmo que demonstre uma luz no fim do túnel de que as coisas venham a melhorar um dia, a arte realista tem passado maus momentos por aqui. Qual é a realidade do mercado norte-americano nesse sentido?
Luiz Vilela: A mesma coisa acontece aqui nos Estados Unidos. E no mundo todo. Mas acredito que isto está começando a mudar. Com raízes no Renascimento, durante mais de quinhentos anos, os mestres artistas transmitiram um sistema de conhecimento para seus alunos. O impacto da nova forma democrática de pensar do Iluminismo em conjunto com uma formação clássica incomparável, acionou o maior período de criatividade que as belas artes já tinha visto. Mais tarde os impressionistas pariram a chamada arte moderna que mudou para tudo o que é chamado de arte hoje em dia. Muitos acreditavam que a pintura realista foi substituída pela fotografia. (De uma certa maneira, foi mesmo, no caso da área de propaganda e marketing, os trabalhos de arte e pintura foram substituídos pela fotografia no final do século XX.) Depois disseram que a própria ARTE havia morrido. A arte tornou-se “arte sobre a arte” e não arte sobre a vida. Atualmente existe uma contínua marginalização da arte realista, portanto, da pintura acadêmica pelo estabelecimento, o que me faz acreditar que a arte realista hoje em dia é a arte de vanguarda atual, quer dizer, o círculo da evolução da arte como a gente a conhecia se fechou e o processo está começando de novo. Hoje existe uma revolução artística -um novo renascimento- que ainda está à margem do mercado. Existe uma procura pela arte clássica dos ateliers franceses do final do século XIX novamente. Dos anos 50 até recentemente, se um alguém se matriculasse numa escola de arte, o que esta pessoa iria aprender? A estética da hora era fazer arte abstrata, expressionista, e os desdobramentos destas correntes. Como é que você “ensina” a fazer arte abstrata? Qual é a estética da arte abstrata e contemporânea? O artista faz o que quiser manejando tintas e pincéis. E fortunas são feitas a partir deste jeito “rápido” e rebelde de se fazer arte. Já para fazer a arte acadêmica/figurativa o artista precisa de treino, pois os artistas autodidatas que são realmente bons no que fazem, eles são raros... Hoje em dia, existe muita gente querendo aprender as técnicas da pintura realista como era ensinada e praticada nos ateliers franceses de pintura acadêmica no final do século XIX, com ênfase em desenho tradicional com modelo vivo, pintura e escultura. O processo de aprendizado começa com os estudantes desenhando e passando à pintura na medida em que sua habilidade progride. Academias e ateliers de arte estão “pipocando” por todo a America e na Europa também. Antes dessa “nova onda” era difícil encontrar escolas de arte de ensino acadêmico, do tipo da The Art Student League, em Manhattan. Como exemplos destes novos estabelecimentos, dentre outros, eu sito principalmente: 
- Studio Incamminati na Filadélfia (fundado em 2002 pelo artista Nelson Shanks) http://www.studioincamminati.org/ 
- Water Street Atelier, mais tarde chamado Grand Central Academy, em Nova York (fundado por Jacob Collins)http://www.grandcentralacademy.org/ 
- Florence Academy of Art em Florença (fundada em 1991 por Michael Graves) http://www.florenceacademyofart.com/index.php 
- Angel Academy of Art em Florença (fundada por Michael John Angel que estudou com Pietro Annigoni)http://www.angelartschool.com/ 
Existem grupos de pintores também como os The Putney Painters influenciados pelo artista Richard Schmid (http://www.villageartsofputney.com/The_Putney_Painters.html ); e pintores como David Leffel, Daniel Greene e Burt Silverman, dentre outros, que desenvolvem um trabalho magnífico de pintura realista e influenciam a nova geração interessada nesta nova corrente. Da turma mais nova eu cito os pintores Jeremy Lipking, Daniel James Keys, Daniel Sprick, Scott Burdick, só para mencionar alguns deles. São muitos.

LUIZ VILELA - Waiting for you - Óleo sobre tela

José Rosário - Realmente são artistas tidos como referências no cenário realista atual. Quanto à arte brasileira, existe alguma ligação sua com outros artistas brasileiros radicados por aí?
Luiz Vilela: Não conheço pessoalmente nenhum pintor brasileiro radicado nos EUA. Conheço fotógrafos e jornalistas. O Facebook tem facilitado este tipo de “network” ultimamente. Através dele, fico em contato com muitos artistas brasileiros, inclusive Andre Nobrega que vive na Califórnia. Conheci a artista brasileira Juliana Limeira, de Brasília, na conferência de arte da Portrait Society of America (www.portraitsociety.org ). Estas conferências são um ótimo meio para conhecer outros artistas. 

LUIZ VILELA - On the river - Óleo sobre tela

José Rosário - Existe algum grupo ou movimento do qual você participa?
Luiz Vilela: Além ser membro da Portrait Society of America, faço parte do Artsbridge Group na minha região, atualmente com mais de 300 membros artistas - este grupo promove exposições, divulga o trabalho dos artistas e contribui para a troca de informações e contato entre eles. 
Na região onde moro, que fica às margens do rio Delaware, rio este que divide os estados de Nova Jersey e Pensilvânia, existem mais de 1000 artistas praticando todos os estilos e técnicas - escultores, pintores, fotógrafos, artesanato, música, e letras. Além de galerias de arte e antiquários, existe um museu maravilhoso chamado Michener Museum (www.michenermuseum.org ), na cidade Doylestown no estado da Pensilvânia. A região de Bucks County, PA, é conhecida como reduto de artistas por muitos anos e pintores americanos influenciados pelo Impressionismo europeu vieram morar aqui, entre eles, Edward Redfield, Daniel Garber e William Lathrop. Escritores como James A. Michener, Dorothy Parker e Pearl S. Buck moraram na região, assim como os músicos Oscar Hammerstein, II, Stephen Sondheim e Charlie Parker. Quando eu morava em Nova York, amigos me aconselhavam a visitar esta área, o que fiz no final do ano 2000. E fiquei encantado com o que vi, tanto que mais tarde eu me mudei para cá.
No caso da Portrait Society of America  (PSOA) seu propósito é promover e melhorar a compreensão das práticas, técnicas e aplicações da arte tradicional de retratos e obras figurativas, principalmente. As atividades desenvolvidas pela corporação são educativas por natureza. Seus projetos aumentam o conhecimento técnico e estético dos artista praticantes, do amador aspirante, dos estudantes de arte assim como do público em geral. A conferência acontece no final do mês de abril, a cada ano em uma cidade diferente. Em 2013 será em Atlanta e é preciso ser membro da sociedade para poder atender ao evento, mas vem gente do mundo todo.

LUIZ VILELA - The Chef-portrait of Jim Hamilton - Óleo sobre tela

José Rosário - Há alguma galeria específica que o represente por aí?
Luiz Vilela: Eu trabalhei com várias galerias de arte, e recentemente era representado pela desChamps Gallery em Lambertville, mas infelizmente a diretora faleceu e a galeria fechou. No momento eu estou avaliando convites para participar em outras galerias mas ainda não defini com qual deverei trabalhar ainda. 
Atualmente estou vivendo uma fase muito interessante e nova, depois de trabalhar em Manhattan no departamento de arte das editoras, eu resolvi dedicar todo o meu tempo ao meu trabalho de pinturas. Agora passo o dia no atelier procurando divulgar minha arte. Os clientes e pessoas que conhecem meu trabalho entram em contato comigo através do meu website, ou por telefone, agendando visitas e também requisitando comissões.

LUIZ VILELA - Finkles - Óleo sobre tela

José Rosário - Vi que já fez vários cursos e sem dúvida eles sempre acrescentam. Alguns de seus mestres já eram suas referências? Que artistas praticam algo com aquilo que você mais identifica no momento?
Luiz Vilela: Eu acho que o ser humano nunca para de aprender, portanto sempre procuro fazer workshops de pintura, principalmente se eu noto que o artista mentor tem alguma qualidade ou técnica diferente da minha, eu acho que neste caso se aprende mais. Eu frequentei o Studio Incamminati, na Filadélfia, por vários anos. Eles são responsáveis pela maioria das técnicas que aprendi com relação à pintura figurativa. É uma escola muito séria, os professores foram treinados pelo artista Nelson Shanks e seguem seus passos, mas cada um com seu estilo próprio, claro. Há alguns anos, numa das conferências da Portrait Society, eu conheci o pintor David Leffel. Eu já o conhecia dos livros e revistas de arte os quais eu lia e estudava, mas pintar com ele e ouvir seus conselhos e tutelagem está sendo muito importante para aumentar o meu conhecimento e técnica de pintura. Você aprende filosofia de vida também- ele é muito sábio, um mentor natural e provavelmente o artista mais pleno no sentido da palavra que eu tive a oportunidade de conhecer. E também porque ele é um ser humano muito generoso e tem um talento e facilidade enorme para dividir sua sabedoria.

LUIZ VILELA - George Street - Óleo sobre tela

José Rosário - Tem preferência por alguma técnica, em especial?
Luiz Vilela: Óleo. É o veículo com o qual mais gosto de me expressar. Mas gosto muito de desenho e principalmente aquarela - e admiro o trabalho de Mary Whyte, uma aquarelista soberba da Carolina do Sul. (www.marywhyte.com )

José Rosário - A pintura em local (plein air) é uma atividade corriqueira ou ocasional?
Luiz Vilela: Eu gostaria que fosse mais corriqueira do que ocasional. Porque é muito importante pintar “in loco.” É quando o artista mais aprende porque todas as respostas para suas dúvidas estão ali, na sua frente. É só saber ver. E esta é a luta de todo artista: aprender a ver o mundo. Para depois interpretá-lo e dividir suas impressões.

LUIZ VILELA - Portrait of a woman - Óleo sobre tela

José Rosário - Seus trabalhos são divulgados no Brasil por alguma galeria? Há alguma publicação sua que queira compartilhar?
Luiz Vilela: Uma tela minha faz parte da coleção do acervo do Museu de Arte Contemporânea MAC Bahia.
Não tenho representação em nenhuma galeria no Brasil, ainda. Este é um projeto e uma vontade que tenho, para um futuro próximo. Estou trabalhando num projeto de pintura retratando o povo brasileiro, o que deverá ser uma “ponte” para restabelecer meu contato com o país onde cresci, e minhas raízes.
Editei um livro com meus trabalhos de pintura, e pode ser adquirido pelo link abaixo:
http://www.blurb.com/b/2048271-buoyant-brushwork-the-art-of-luiz-vilela


Gostaria de agradecer imensamente ao Luiz Vilela
pela sua atenção e por ceder as imagens para
a publicação dessa matéria.



PARA SABER MAIS:

sábado, 16 de fevereiro de 2013

ARRANJOS FLORAIS

Três artistas do século XIX em
três demonstrações de florais
bem tradicionais para aquela época.
Artistas franceses que ainda carregavam
uma maneira de fazer que remonta
ao século XVIII, mas que já se
abriam a uma visão mais solta e
composições mais despojadas.

EMILE VERNAY

EMILE VERNAY - Buquê de flores - Óleo sobre tela - 61 x 46

                   


                   


HENRIETTE DE LONGCHAMP

HENRIETTE DE LONGCHAMP - Composição com rosas - Óleo sobre tela - 67 x 47,5

 
 


EUGÈNE HENRY CAUCHOIS

EUGÈNE HENRY CAUCHOIS - Rosas e partituras - Óleo sobre tela - 65 x 92

             


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

WILLIAM MERRITT CHASE


WILLIAM MERRITT CHASE - Horas vagas - Óleo sobre tela - 64,77 x 90,17 - 1894

WILLIAM MERRITT CHASE
Casa de Chase, em Shinnecock Hills
Óleo sobre tela - 64,77 x 84,14 - 1895

Ao sul de Long Island, cerca de 100 km de Nova York, Southampton já era, na última década de 1800, um local elegante onde os milionários americanos erguiam suas mansões e passavam ali os verões. Shinnecock era uma espécie de extensão da cidade, local onde ergueu-se a Shinnecock Hills of Art. Em tempos mais remotos, era o endereço dos sonhos de William Merritt Chase e agora ele estava ali. Dirigiu a escola por mais de uma década e tirava dois dias da semana para lecionar a todos que lá se encaminhavam. A escola era uma espécie de refúgio, fundada pelos colecionadores que tinham casas de verão nas proximidades e justificava a fama de um local acolhedor, onde o ensino comungava com o prazer de se formar amigos. Um local aprazível, onde dava gosto caminhar sem destino e observar o mar e seus mistérios. Há cerca de 3 km da escola, Chase foi alojado em uma ampla casa, que abrigava também seu estúdio. Desfrutava daquele recanto com sua numerosa família e, quando não estava lecionando, estava pintando, o que era realmente aquilo que mais gostava de fazer.

WILLIAM MERRITT CHASE - Você me chamou?
Óleo sobre tela - 96,52 x 109,22 - 1897

WILLIAM MERRITT CHASE - A loja de antiquário
Óleo sobre tela - 68,58 x 87 - 1879

Prazeroso também para Chase era, sempre que chegava algum artista influente, caminhar pela orla e trocarem informações. Observar a paisagem, que oferecia sempre condições surpreendentes e sempre que era possível, pinta-la ao vivo. Herança da tradição impressionista influenciada por artistas europeus e da qual se fazia discípulo incondicional. Em muitas dessas longas conversas não escondia suas origens. Tinha orgulho de ser o mais velho dos seis filhos de uma família de comerciantes bem sucedidos. Tiveram alguns transtornos financeiros que abalaram as condições da família, mas ainda assim esses detalhes não saíam das rodas de conversas. Afinal, era sua vida, da qual não podia se abdicar e jamais ignorava tudo que lhe havia trazido até ali.

WILLIAM MERRITT CHASE - Hall em Shinnecock Hill
Óleo sobre tela - 101,92 x 40,13 - 1895

WILLIAM MERRITT CHASE - Nu de costas
Pastel sobre papel - 47,72 x 33,02 - 1888

Chase nasceu em 1849, em Indiana. Apenas em 1872, após estudos em Indianápolis e na Academia Nacional de Design de Nova York, é que se encaminha para a Europa. Certa vez, ao ser perguntado se gostaria de estudar na Europa, respondeu prontamente: “Meu Deus, eu prefiro ir para a Europa do que ir para o céu!” E para lá se encaminhou. Diferentemente de toda a maioria de artistas americanos que se encaminhavam para Paris, Chase escolheu inicialmente Munique. Achava o ambiente mais tranqüilo e queria fugir um pouco das badalações que a capital francesa proporcionava naquela época. Mas, mesmo se matriculando na Academia de Munique, sentia mais interessado nos experimentos de Wilhelm Leibl e Gustave Courbet, além é claro, do realismo desenvolvido em alguns trabalhos de Franz Hals e Rubens.

WILLIAM MERRITT CHASE - Casas-barco, Prospect Park
Óleo sobre painel - 1887

WILLIAM MERRITT CHASE - Prospect Park - Óleo sobre tela - 1886

Nas conversas e caminhadas em Shinnecock, gostava também de frisar dos aprendizados conquistados em solo europeu. Tanto ele, como uma grande parte dos artistas americanos que para lá se encaminhavam, desenvolviam os mais diversos estilos pictóricos. Ecletismo era uma palavra em moda entre eles. Mergulhavam em aprendizados de mestres passados com a mesma intensidade com que experimentavam o que havia de mais contemporâneo em seu momento. Talvez por isso, Chase conseguia caminhar com facilidade entre um realismo que não decepcionava aos mais criteriosos e agradava imensamente a todos aqueles que já se entusiasmavam com os novos experimentos impressionistas.

WILLIAM MERRITT CHASE - Sra Chase
Óleo sobre tela - 121,29 x 95,89 - 1902

WILLIAM MERRITT CHASE - Bronzes e vidro
Pastel sobre papel montado em linho - 66,04 x 88,9 - 1888

Muitos relatos de época comprovam um Chase elegante, não apenas refinado no trato com todos os que conviviam em seus dias. Tinha uma satisfação imensa em acolher amigos artistas e debater calorosamente com eles todos os avanços e experimentos que a arte proporcionava ao seu tempo. Uma prova que era realmente dedicado nos seus relacionamentos e valorizava todos eles, é que era um colecionador inveterado. Mesmo nos anos mais difíceis de estudos, sempre juntava umas reservas para ampliar sua coleção. Adquiria trabalhos principalmente de seus amigos artistas e sentia muito bem ao fazer isso. Fez isso durante toda sua vida.

WILLIAM MERRITT CHASE - Um canto do meu estúdio - Óleo sobre tela - 61,28 x 91,44 - 1895

WILLIAM MERRITT CHASE - Uma memória: na vila italiana
Óleo sobre tela - 74,3 x 92,08 - 1910

Chase era mesmo um artista de vanguarda para o seu tempo. Audacioso, alugou um estúdio no Tenth Street Studio Building, em Greenwich Village, considerado o primeiro edifício do mundo construído unicamente para abrigar estúdios para artistas. Algo audacioso até para os tempos atuais. Méritos para Richard Morris Hunt, quem projetou o edifício e o inaugurou em pleno ano de 1856. A boa reputação que Chase já começava a gozar, permitiu-lhe ocupar a grande galeria, anteriormente destinada a exposições coletivas de todos os artistas do prédio. Durante um bom tempo foi o seu endereço mais que nobre.

WILLIAM MERRITT CHASE - Terraço no Mall, Central Park - Óleo sobre tela - 1880

A boa acolhida que sempre proporcionava a todos que o procuravam, também rendeu ótimos frutos para o próprio Chase. Alfred Stevens, um artista belga que conheceu em uma de suas muitas viagens que fez regularmente à Europa, foi quem o alertou: “Não tente fazer seus trabalhos parecerem que foram feitos por mestres antigos”. Chase acolheu a dica como algo bom, não como uma crítica severa. À partir de então, praticou algo mais despojado, principalmente nos muitos trabalhos de estúdio. Começou também a pesquisar e se deixar influenciar por algo de seu tempo, especialmente os trabalhos de Manet e as cenas urbanas compostas por Giuseppe de Nittis.

WILLIAM MERRITT CHASE - Pequeno almoço no jardim - Óleo sobre tela - 1888

Com certeza, a exposição de 1886, com cerca de 300 pinturas de artistas impressionistas europeus, realizada em Nova York por Durand Ruel, trouxe um novo estímulo aos trabalhos contemporâneos de Chase. Já não era apenas a influência de Manet que o saciava, agora se sentia atraído também por Degas, Pisarro, Caillebote, Monet e todos os demais que compunham o seu círculo. Muito sensível, percebia ali não somente um movimento de amigos, mas o surgir de uma nova visão artística que mudaria a maneira de fazer todos os trabalhos dali em diante. Estava certo, como sempre! Mesmo sendo um impressionista americano bem sucedido, Chase não abandonou de tudo suas referências acadêmicas, como constatamos nas suas várias execuções de retratos e naturezas-mortas, onde dedicava uma atenção especial às formas e seus volumes.

WILLIAM MERRITT CHASE - Um trecho do terraço
Óleo sobre tela - 52,71 x 62,23 - 1890

WILLIAM MERRITT CHASE - Sombras da tarde
Óleo sobre painel - 36,83 x 40,64 - 1897

William Merritt Chase faleceu no ano de 1916, em Nova York, de onde sempre tinha orgulho para retornar de todas as viagens. Deixou um legado material imenso e um legado humano ainda maior. Promoveu a arte e os artistas de seu tempo. Muitos mestres de sua época foram impulsionados pela sua admiração e dedicação em ver a arte como um bem universal que a todos merece atingir. Em 1983, sua casa e estúdio em Shinnecocck Hills foi adicionada ao Registro Nacional de Lugares Históricos. Ainda é um local onde se é possível passear pela orla e sonhar com novos tempos da arte para todo o mundo.

WILLIAM MERRITT CHASE - Autorretrato
Óleo sobre tela - Cerca de 1915

Chase e grupo de alunas em Shinnecock Hills, numa sessão de pintura ao vivo.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CARLOS AUGUSTO


CARLOS AUGUSTO - Ilha da Boa Viagem - Óleo sobre tela - 60 x 130

CARLOS AUGUSTO - Igreja Nossa Senhora da Piedade, Angra dos Reis
Óleo sobre tela - 70 x 110 - 2000

Muito tem se falado da divisão racial de cotas, seja para o ensino ou para qualquer outra oportunidade de ascensão social de indivíduos. É uma questão polêmica, pois envolve uma série de fatores. É sabido que uma condição social desfavorável, por aqueles que não tem muitos recursos financeiros, principalmente para evoluírem em seus estudos, é um fator de desigualdade social, que por si só, desnivela as classes sociais e põe em desigualdade aqueles que realmente nunca terão acesso a essa melhora de condição. Por outro lado, há o risco de rotular alguém merecedor de uma oportunidade, apenas por que tem uma condição social desfavorável, sem se dar conta que ele realmente tenha méritos para isso.

CARLOS AUGUSTO - Canoas de pescadores - Óleo sobre tela - 60 x 120 - 2000

CARLOS AUGUSTO - Ferradura, Búzios - Óleo sobre tela - 60 x 110

CARLOS AUGUSTO - Praia do Leme - Óleo sobre tela - 50 x 120 - 1990

De origem modesta, negro, criado na periferia de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Carlos Augusto é um dos muitos casos, não raros, de prodigiosos talentos que não necessitam de cotas para ascensão. O respeito que sentimos pela sua obra é conquistado unicamente por ela, sem mesmo que saibamos quem é o artista que está por trás dela. Seu histórico de vida nos deixa ainda mais desconfiados se esses critérios de seleção são mesmo seguros e necessários. Descoberto ainda jovem, graças a um talento autodidata, já praticava, aos 21 anos de idade, uma pintura de veterano, mas que nunca havia sentado em uma cadeira de escola de artes.

CARLOS AUGUSTO - Rochas, Boa Viagem - Óleo sobre tela - 90 x 120 - 2003

CARLOS AUGUSTO - Angra dos Reis, Ilha Grande
Óleo sobre tela - 60 x 110 - 1990

CARLOS AUGUSTO - Saco da Gamboa - Óleo sobre tela - 65 x 100

Com o apoio da mãe, isso sim, caso raro de quem precisa da mão de obra com mais emergência para ajudar a suprir nas dificuldades domésticas, Carlos Augusto se viu forçado a abandonar cedo os seus estudos, exatamente para ajudar no orçamento da família. Por um desses vieses que a vida oferece, foi trabalhar com molduras na Galeria Rembrandt, no Rio de Janeiro. Paralelo às suas funções do dia a dia naquele estabelecimento, crescia também o interesse constante pelas obras de arte que tanto via passar por suas mãos. Não perdeu tempo e começou a explorar um dom que se fazia adormecido dentro dele. A evolução vem rápido para todos aqueles que não perdem os olhos de seus objetivos.

CARLOS AUGUSTO - Serra dos Órgãos, Teresópolis - Óleo sobre tela - 60 x 130 - 1998

CARLOS AUGUSTO - Vista de Santa Tereza, século XIX - Óleo sobre tela - 60 x 170

Carlos Augusto conquistou seu espaço graças a seu talento ímpar de captar, principalmente, as belezas naturais litorâneas do Rio de Janeiro. Faz com maestria o que muitas escolas nunca poderiam lhe ensinar. Parte a campo, capta suas primeiras impressões e depois, em seu retiro de ateliê, debruça horas a trabalhar aquilo que a retina não deixa fugir. Com uma energia imensa, explora efeitos e resultados numa técnica que desenvolveu exclusivamente para sua maneira de fazer. Curiosamente, só veio a conhecer o mar já adulto, e percebe-se o quanto o contato lhe causou emoção.

CARLOS AUGUSTO - Salinas, São Pedro da Aldeia - Óleo sobre tela - 50 x 120

CARLOS AUGUSTO - Vista da Praia de Charitas, Niterói - Óleo sobre tela

Walmir Ayala foi quem deu uma das melhores definições do artista, para um release de apresentação de suas obras em sua primeira exposição:
“Estamos diante de um pintor de Caxias, da polêmica Baixada Fluminense, e que nos traz uma lição de equilíbrio, em uma linguagem elaborada e criativa, na qual nosso mundo é revisto com grandeza e excelência técnica... Ele persegue uma visão de paz, que corresponde à emoção que sente ao trabalhar, exemplo de que a felicidade consiste em produzir algo dentro de um projeto de vida, e que talvez isso seja irreversível, em termos de vocação...”


.* Crédito das imagens para:
REMBRANDT GALERIA, Rio de Janeiro