segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

FEDERICO DEL CAMPO

FEDERICO DEL CAMPO - O Cad'Oro, Veneza - Óleo sobre tela - 52 x 87 - 1885

FEDERICO DEL CAMPO - Rio San Trovaso, Veneza - Óleo sobre tela

Recentemente (13 de dezembro de 2013), a venda de duas obras de arte do artista Federico del Campo atingiu uma excelente cotação. Duas pequenas telas suas alcançaram juntas a soma de 150 mil dólares, o que traz à tona, novamente, a valorização de uma temática que nunca se fez esquecida: cenas da cidade italiana de Veneza.

FEDERICO DEL CAMPO - O Grande Canal, Veneza - Óleo sobre tela - 53 x 91

No final do século XIX, Veneza era o destino mais que obrigatório para os turistas ricos de todas as partes do mundo. Era ali que os mais abastados, principalmente os mais jovens, exibiam toda sua pompa e por ali ficavam um bom tempo, num deleite imperdível. Não bastava apenas visitar e viver a cidade por uns tempos, todos que por lá passavam se sentiam tentados em levar um pouco da cidade consigo. Foi assim, que um grande número de artistas se especializava cada vez mais na retratação de diversos ângulos da cidade. Federico del Campo acabou por se tornar um dos nomes mais importantes na realização desses souvenires de Veneza.

                           

Em cima, esquerda: FEDERICO DEL CAMPO - Gôndolas em um canal, Veneza - Óleo sobre tela
Em cima, direita: FEDERICO DEL CAMPO - Palazzo Labia, Veneza - Óleo sobre tela
Embaixo: FEDERICO DEL CAMPO - Cena de um canal veneziano - Óleo sobre tela


Por volta dos anos de 1880, Federico se juntou a um grupo de artistas espanhóis, que já moravam na cidade. Colegas em tudo, o agradável grupo pintava lado a lado, compartilhando quase que as mesmas tomadas e ângulos. Martin Rico y Ortega foi o artista espanhol que melhor acolheu Federico e ambos dividiam não só o alojamento, mas também as cenas e os clientes de suas obras. Muitos anos antes, Veneza começou a ser pintada exaustivamente por Canaletto e Guardi e essa abordagem foi logo adotada por muitos artistas que passavam e acabavam ficando pela cidade. O italiano Rubens Santoro é sem dúvida, o nome mais famoso do país na representação dessas cenas. Também seguiram nomes como Joaquin Sorolla, Franz Unterberger, Mariano Fortuny e Antonietta Brandeis, que encontraram na cidade um mercado consistente para suas produções.

FEDERICO DEL CAMPO - Uma rua de comércio, Palermo, Sicília - Óleo sobre tela

FEDERICO DEL CAMPO - Capri - Óleo sobre tela

Federico del Campo nasceu em Lima, no Peru, no ano de 1837. Não era um bom período na América Latina aquele. Proclamado independente da Espanha em 1824, o Peru ainda passava por uma turbulenta situação política e também havia o grande desafio de se tornar uma república economicamente estável e independente. Foram condições adversas que não afetaram tanto a formação artística de Federico. O jovem artista já se mostrava promissor em suas propostas, representando com eficiência algumas cenas da América do Sul, e isso chamou a atenção do Marquês della Fuerta, um ministro peruano que resolveu investir em seu talento precoce. Foi graças a ele, que conseguiria os fundos necessários para uma viagem a Europa e um longo período de estudos por lá.

FEDERICO DEL CAMPO - Palazo Cavalli-Franchetti, Veneza
Óleo sobre tela - 63,5 x 88,8 - 1890

                           
Esquerda: FEDERICO DEL CAMPO - Interior do Palazzo Ducalle, Veneza
Óleo sobre tela - 95 x 60 - 1888
Direita: FEDERICO DEL CAMPO - Passeando por Roma - Óleo sobre tela

Documentos atestam que Federico fez uma passagem inicialmente pela Espanha, tendo inclusive sido inscrito como aluno na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, em Madri, por volta de 1865. Ele recebeu ali uma boa base e principalmente um grande apoio e influência de Lorenzo Valles. Mesmo os dois tendo produzido uma grande parte de suas produções fora da Espanha, por vários anos continuavam a mostrar suas obras na Real Academia.


FEDERICO DEL CAMPO - Canale San Giuseppe, Veneza
Óleo sobre tela

FEDERICO DEL CAMPO - Palácio Dodge e Santa Maria della Salute
Óleo sobre tela - 46,6 x 73,9 - 1898

FEDERICO DEL CAMPO - Atravessando a ponte
Óleo sobre tela

Motivado pelo grande número de amigos artistas espanhóis que se encontravam na Itália, Federico também partiu para lá e conheceu extensivamente o país, por um bom tempo. Esteve em Nápoles, Capri, Roma, Assis, mas foi em Veneza que definitivamente viria a se sentir em casa. Adotou com tanta vontade a cidade, que acabou sendo um dos artistas mais respeitados, no final do século XIX, que pintavam a cidade. Suas cenas de Veneza se tornaram particularmente procuradas e valorizadas, fato que continua crescendo até hoje. Seu domínio técnico altíssimo, bem como a escolha de uma paleta agradável e brilhante, tornaram seus quadros imediatamente atraentes. A superioridade de Federico em relação a outros artistas contemporâneos seus, está principalmente na grande inclusão de personagens em suas cenas, e que eram executados com extrema naturalidade e leveza.


FEDERICO DEL CAMPO - Praia em Capri - Óleo sobre tela - 39,5 x 66,5 - 1884



Quer se trate de uma ampla visão do Grande Canal, ou mesmo uma visão mais íntima de um canal lateral da cidade Veneza, bem como tumultuadas cenas de Nápoles e até mesmo ensolaradas cenas de Capri, Federico conseguia impor em seus trabalhos um alto domínio técnico e de composição. Não é à toa que essas obras se tornaram logo, encomendas de luxo para prósperos visitantes europeus e americanos.


                 
Esquerda: FEDERICO DEL CAMPO - Um canal veneziano iluminado - Óleo sobre tela
Direita: FEDERICO DEL CAMPO - Um canal veneziano com Santa Maria della Visitacione e Santa Maria del Rosario - Óleo sobre tela - 23,5 x 16,75

FEDERICO DEL CAMPO - Canal dela Giudecca, Veneza - Óleo sobre tela - 39,4 x 66 - 1887

O artista também visitaria a França, num de seus períodos mais importantes, o final dos anos de 1870, quando o Impressionismo arrebatava cada vez mais, seguidores e colecionadores. Ele não se tornou exatamente um impressionista, mas seu colorido lembra muito os melhores nomes desse movimento. A partir de 1880, apresentou seus trabalhos por diversas vezes no Grande Salão de Paris.


FEDERICO DEL CAMPO - Crianças numa baía de pesca
Óleo sobre tela

FEDERICO DEL CAMPO - Gondoleiros no Grande Canal, Veneza
Óleo sobre tela - 50,2 x 75,7 - 1911

FEDERICO DEL CAMPO - Porto em Capri, 1881
Óleo sobre tela

O artista viria ainda a se mudar para Londres, em 1893, devido ao sucedido mercado de suas obras que se estabelecera entre os ingleses. Os ricos comerciantes da Revolução industrial e da aristocracia britânica tornariam assim, seus fortes patronos por uma longa temporada. Muitas de suas obras, do seu período final de produção, foram encontradas nas coleções da rainha, da princesa de Gales e da duquesa de Edimburgo. Uma exposição com 40 obras suas, montada na cidade americana de Chicago, em 1893, foi um marco importante para consolidar de vez a sua reputação entre os colecionadores americanos, o que permitiu que o artista desfrutasse de uma vida confortável até o final de seus dias.
Federico del Campo faleceu em Londres, em 1923.


FEDERICO DEL CAMPO - Um dia de comércio no Canal de Veneza
Óleo sobre tela - 72 x 47,6

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O BARULHO DO MAR

JOSÉ ROSÁRIO - O barulho do mar - Óleo sobre tela - 30 x 40 - 2013

Quando criança, ficava tentando imaginar como seria o barulho do mar. Como sempre morei no interior de Minas, cuja praia mais próxima fica a mais de 500 km, me contentava em ouvir o barulho de uma grande concha que meu pai possuía desde criança. Cresci acreditando que aquele era o barulho do mar mais fiel que existia, até que mais tarde visitei várias praias e finalmente vim a confirmar aquilo que a concha dizia.
Outro dia, com a visita das crianças de um amigo meu, senti tentado em compor essa cena, que muitas boas recordações me traz. Confesso que não foi fácil fazer essa "duplinha" ficar quieta, de modo que muitas tentativas foram feitas entre fotos e esboços. Utilizamos uma velha poltrona que fica em um dos cantos do ateliê. A vontade de pintar com os modelos ao vivo foi grande, mas era impossível contê-los por mais de 3 minutos parados.







Os trabalhos foram iniciados sob os olhares atentos de Bernardo e Caroline, os modelos do quadro.



Caroline e Bernardo com o pai, Claudinei N. Silva.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

AN JUNG-HWAN

AN JUNG-HWAN - Florestas silenciosas - Óleo sobre tela - 48 x 90,9 - 2009

AN JUNG-HWAN - Florestas silenciosas
Óleo sobre tela - 90,9 x 60,6 - 2009

An Jung-Hwan é um jovem artista coreano, nascido na cidade de Miryang, a 22 de setembro de 1978. Iniciou os seus estudos no Painting College of Fine Arts Keymiung e depois se especializou no St Petersburg State Academic Institute of Painting, Sculpture and Architecture.

AN JUNG-HWAN - Alimentando
Aquarela sobre papel - 145,5 x 100,3 - 2002

AN JUNG-HWAN - Silêncio - Óleo sobre tela - 65 x 90,9 - 2005

AN JUNG-HWAN - Velho ciclista
Óleo sobre tela - 130,3 x 97 - 2002

Fez sua primeira exposição na Gallery Soheon, em Daegu. Seguiram depois mais algumas mostras em Jungdong e Seul. É um artista ativo da cena contemporânea coreana, sendo inclusive um dos seus representantes em sua última bienal.

AN JUNG-HWAN - Caminhando
Aquarela sobre papel - 116,8 x 80,3 - 2003

AN JUNG-HWAN - No cocho - Óleo sobre tela - 116,7 x 91 - 2009

AN JUNG-HWAN - Vales silenciosos
Óleo sobre tela - 65,2 x 90,9 - 2011

Experimentou diversas técnicas, até se especializar mais atualmente no óleo. Algumas aquarelas, em início de carreira, já demonstram a grande habilidade com o desenho e uso correto das cores. É um artista bem versátil, que transita muito bem entre o figurativo e a paisagem.

AN JUNG-HWAN - Florestas silenciosas
Óleo sobre tela - 162 x 162 - 2008 a 2009

AN JUNG-HWAN - Florestas silenciosas - Óleo sobre tela - 80,3 x 116,7 - 2013

AN JUNG-HWAN - O tempo passa
Óleo sobre tela - 112,1 x 162,2 - 2003

Sua série especial denominada Florestas Silenciosas tornou-se praticamente sua marca registrada, já trabalhando com ela desde 2007. É também uma série que vem confirmar uma habilidade e tendência natas dos artistas orientais na retratação de locais bucólicos e introspectivos.

AN JUNG-HWAN - Anciã
Óleo sobre tela - 65,1 x 45 - 2005

AN JUNG-HWAN - Visitando a exposição - Óleo sobre tela - 130,3 x 162,2 - 2006

AN JUNG-HWAN - Pelo leito
Aquarela sobre papel - 41 x 57,5 - 2003


Para o artista, seu estúdio é como um campo de batalha. Aliás, é no estúdio que executa praticamente a totalidade de suas obras, sempre se orientando por boas referências fotográficas. Percebemos que o trabalho de Jung-Hwan, mesmo bem realista, tem um "que" de Romantismo, devido à idealização de suas composições. Já possui uma boa cotação em diversas casas de leilões.


PARA SABER MAIS: 

domingo, 22 de dezembro de 2013

UMA MENSAGEM PARA A VIDA...

GILBERT GAUL - Dia de natal em um campo de guerra
Óleo sobre tela - 63,5 x 91,5
Há o relato de que até muitas guerras já foram interrompidas, em dia de natal,
para um momento de esperança e confraternização. Esta é a principal mensagem
do natal, poder acreditar em um novo período que chegará em breve.

Tendo espírito religioso ou não, o final de cada ano desperta em nós sentimentos não muito lembrados durante o ano. Ficamos mais suscetíveis aos encontros, às caridades, às lembranças... Todo o mundo ocidental aprendeu a conviver com isso. A tradição cristã afirma que um menino nasceu há mais de 2000 anos com intuito de nos ensinar algo. Sabemos da lição, mas quase nunca a colocamos em prática.
O final de cada ciclo e a chegada de um novo período, parece reacender algo apagado pela dureza do dia-a-dia. É apenas um efeito psicológico, isso é certo, mas nos permite recobrar forças e seguir caminhada.
Deixo abaixo, um texto que me foi enviado como sendo escrito por Pachecão, um famoso professor da cidade de Belo Horizonte. Quer seja correta a fonte ou não, o que importa é a veracidade de tudo que está escrito nela. Certos textos nem precisam de autores, pois parecem conter os pensamentos do mundo. Não é exatamente um texto natalino, mas está revestido de muitas ideias que o natal pretende despertar em nós e contém uma bela proposta para começar o ano novo que chega.

JOSEPH BRICKEY - O nascimento
Óleo sobre tela
A tradição cristã nos lembra de um menino que veio conquistar o mundo
com simplicidade e pelo amor. Não é preciso ter espírito religioso para
acreditar nessa proposta, basta apenas contribuir para que isso seja
algo que torne o mundo melhor para todos.


ENVELHECER
(Pachecão - Prof. de Física e Matemática,Belo Horizonte)

Não importa sua idade. Estamos envelhecendo. Não nos preocupemos! De que adianta, é assim mesmo. Isso é um processo natural. É uma lei do Universo conhecida como a 2ª Lei da Termodinâmica ou Lei da Entropia. Essa lei diz que: A energia de um corpo tende a se degenerar e com isso a desordem do sistema aumenta. Portanto, tudo que foi composto será decomposto, tudo que foi construído será destruído, tudo foi feito para acabar.
Como fazemos parte do universo, essa lei também opera em nós. Com o tempo, os membros se enfraquecem, os sentidos se embotam.   Sendo assim, relaxe e aproveite. Parafraseando Freud: “A morte é o alvo de tudo que vive”. É isso que acontece a nós.
O conselho é: Viva! Faça apenas isso. Preocupe-se com um dia de cada vez. Como disse um dos meus amigos a sua esposa: “me use, estou acabando!”. Hilário, porém realista.   
Ficar velho e cheio de rugas é natural. Não queira ser jovem novamente, você já foi. Pare de evocar lembranças de romances mortos, vai se ferir com a dor que a si próprio inflige. Já viveu essa fase. Reconcilie com a sua situação e permita que o passado se torne passado. Esse é o pré-requisito da felicidade. “O passado é lenha calcinada. O futuro é o tempo que nos resta: finito, porém incerto”, como já dizia Cícero. Abra mão daquela beleza exuberante, da memória infalível, da ausência da barriguinha, da vasta cabeleira e do alto desempenho, pra não se tornar caricatura de si mesmo. Fazendo isso ganhará qualidade de vida. Querer reconquistar esse passado seria um retrocesso e o preço a ser pago será muito elevado. Serão muitas plásticas, muitos riscos e mesmo assim você verá que não ficou como outrora. A flor da idade ficou no pó da estrada. Então, para que se preocupar?! Guarde os bisturis e toque a vida.
Você sabe quem enche os consultórios dos cirurgiões plásticos? Os bonitos. Você nunca me verá por lá. Para o bonito, cada ruga que aparece é uma tragédia, para o feio ela é até bem vinda, quem sabe pode melhorar, ele ainda alimenta uma esperança. Os feios são mais felizes, mais despreocupados com a beleza.  Na verdade, ela nunca lhes fez falta, utilizaram-se de outros atributos e recursos. Inclusive tem uns que melhoram na medida em que envelhecem. Para que se preocupar com as rugas, você demorou tanto para tê-las! Suas memórias estão salvas nelas. Não seja obcecado pelas aparências, livre-se das coisas superficiais. O negócio é zombar do corpo disforme e dos membros enfraquecidos.
Essa resistência em aceitar as leis da natureza acaba espalhando sofrimento por todos os cantos. Advêm consequências desastrosas quando se busca a mocidade eterna, as infinitas paixões, os prazeres sutis e secretos, as loucas alegrias e os desenfreados prazeres. Isso se transforma numa dor que você não tem como aliviar e condena à ruína sua própria vida.
Discreto, sem barulho ou alarde, aceite as imposições da natureza e viva a sua fase. Sofrer é tentar resgatar algo que deveria ter vivido e não viveu. Se não viveu na fase devida, o melhor a fazer é esquecer. A causa do sofrimento está no apego, está em querer que dure o que não foi feito para durar. É viver uma fase que não é mais sua. Tente controlar essas emoções destrutivas e os impulsos mais sombrios. Isso pode sufocar a vida e esvaziá-la de sentido. Não dê ouvidos a isso, temos a tentação de enfrentar crises sem o menor fundamento. Sua mente estará sempre em conflito se ela se sentir insegura. A vida é o que importa; concentre-se nisso. A sabedoria consiste em aceitar nossos limites.
Você não tem de experimentar todas as coisas, passar por todas as estradas e conhecer todas as cidades. Isso é loucura, é exagero. Faça o que pode ser feito com o que está disponível. Quer um conselho? Esqueça. Para o seu bem, esqueça o que passou. Têm tantas coisas interessantes para se viver na fase em que está. Coisas do passado não te pertencem mais. Se você tem esposa e filhos experimente vivenciar algo que ainda não viveram juntos, faça a festa, celebre a vida. Agora você tem mais tempo, aproveite essa disponibilidade e desfrute. Aceitando ou não, o processo vai continuar. Assuma viver com dignidade e nobreza a partir de agora. Nada nos pertence.
Tive um aluno com 60 anos de idade que nunca havia saído de Belo Horizonte. Não posso dizer que pelo fato de conhecer grande parte do Brasil sou mais feliz que ele. Muito pelo contrário, parecia exatamente o oposto. O que importa é o que está dentro de nós. A velha máxima continua atual como nunca: “quem tem muito dentro precisa ter pouco fora”.
Esse é o segredo de uma boa vida.