sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CHARLES OAK


CHARLES OAK - Joana - Óleo sobre tela - 30 x 60

Tenho frisado, em matérias anteriores, sobre a versatilidade que é inerente à carreira de muitos artistas. Essa espécie de inquietude, que é um dom para muitos e que também se transforma num doce tormento, torna-se a gênese do que há de mais cobiçado no mundo da arte, a criatividade. É das adversidades e dos desafios do dia a dia, que nasce o artista irreverente e que se propõe estar sempre criando e buscando novas linguagens. Não é fácil conviver com mil ideias na cabeça, “trocando socos e pontapés” para ganhar vida em pincéis, canetas, lápis e toda forma de expressão. Uma inquietude que é nata dos jovens, que ainda não se deram ao conforto perigoso da maturidade de expressão, porque, como disse Picasso, “é na juventude que acontecem todas as revoluções”.
Charles Carvalho, que assina Charles Oak (muito próprio, por sinal), é um desses jovens talentos brasileiros que dá gosto de acompanhar. Fala a linguagem de seu tempo e a expressa com técnicas e sentimentos também de sua época. Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, reside atualmente na cidade de São Paulo. Deixo abaixo, um relato emocionante de sua carreira, narrado pelo próprio artista. Uma bela história sobre como tudo começou.

CHARLES OAK - Sem título - da Série Geisha Pop
Óleo sobre tela - 30 x 60

CHARLES OAK - Sem título
Óleo sobre tela - 30 x 60

Eu sou um artista autodidata, comecei a desenhar muito cedo, graças ao incentivo da minha mãe a essa prática. Pessoa maravilhosa, a quem devo tudo que consegui com a arte até hoje. Como ela não queria que eu e meu irmão ficássemos na rua, para evitar qualquer tipo de problema, trazia folhas e mais folhas, junto com canetinhas e réguas, para desenharmos. Então colávamos as folhas e desenhávamos, montando uma sequência com as folhas coladas, que atravessavam a casa toda. Era uma bagunça, mas ela adorava chegar e ver os desenhos. Por isso, tudo que tenho conquistado até hoje, com a arte, devo a ela.

CHARLES OAK - Entre azul - Óleo sobre tela - 60 x 30

Com o tempo, fui crescendo e aprendendo a necessidade e importância do estudo. Estive em algumas bibliotecas, onde conheci as obras de Stephen Rogers Peck e Andrew Loomis e fiquei maravilhado com o nível destes artistas. Esse foi o momento onde eu percebi que a arte tinha realmente entrado na minha vida. Decidi que seria dessa forma que passaria a viver, produzindo arte, já que na minha cabeça, eu precisava fazer algo que causasse aquele mesmo sentimento que tive quando abri os livros do Rogers Peck e Loomis. Daí veio a decisão de estudar mais a fundo, sempre por conta própria, pois não tinha uma condição financeira que me propiciava estudar arte.

CHARLES OAK - Tigrada - Óleo sobre tela - 40 x 20

Aos 16 anos fiz meu primeiro trabalho de publicidade, na época ganhei menos de 50 reais, voltei supercontente com o dinheiro no bolso. Lembro que meu  irmão gostava muito de Fliperama, cheguei em casa e o levei para jogar. Ao longo do tempo foram aparecendo mais e mais trabalhos de ilustrações para publicidade e comecei a trabalhar bastante com isso, consequentemente meu cachê aumentou também (rs).

CHARLES OAK - green lantern
HQ

CHARLES OAK - Sword and magic
HG

Depois de algum tempo, eu conheci um desenhista que estava tentando trabalhar com histórias em quadrinhos para aos Estados Unidos, Rodrigo Pereira, ele é um dos meus melhores amigos até hoje. Achei a ideia de trabalhar no mercado de HQs Americano muito louca e coloquei na minha cabeça que queria fazer isso também. Então conversando com o Rodrigo, ele disse que precisava ter um agente, alguém que falaria com as editoras. Era uma época que não tínhamos a Internet como hoje, as referências vinham pelo correio e, quando faltava alguma coisa, era enviada através do Fax.
O Rodrigo arranjou o tal agente e então decidi trabalhar com o mesmo que o Rodrigo trabalhava, fiz os testes que ele pediu e não demorou muito comecei a pegar alguns trabalhos no mercado americano. Ao mesmo tempo surgiram boas propostas aqui no mercado nacional de HQs e acabei saindo por um tempo do mercado internacional.

CHARLES OAK - Buffy Sample
HQ

CHARLES OAK - Sword and magic
HQ

Passados os trabalhos para o mercado nacional, voltei para o mercado americano, desta vez fiquei mais tempo, fazendo com que eu trabalhasse com grandes franquias, como: Wolverine, X-men, Batman, Red Sonja, entre outras. Fiquei mais de 10 anos trabalhando no mercado americano, através de um agente, aqui do Brasil.
Mas uma coisa me incomodava, toda vez que olhava minha carreira, eu sempre sentia que faltava alguma coisa, eu não sabia bem ao certo o que era... Até que comecei a pintar com tinta guache, para fazer alguns trabalhos pessoais.  Mesmo ficando horríveis, o ato de pintar me trazia paz e eu adorava fazer aquilo.

CHARLES OAK - Estudo em plein air
Óleo sobre tela - 30 x 40

CHARLES OAK - Estudo
Óleo sobre tela - 50 x 70

Eu queria pintar da forma tradicional. Então resolvi procurar uma escola, um lugar onde sentisse que pudesse atender as minhas necessidades. Foi muito tempo procurando, eu não achava ninguém que eu olhasse o trabalho e pensasse: “esse cara é muito bom!”. Fui deixando isso meio de lado, estava cansando de procurar e fui seguindo com o meu trabalho. Até que um dia encontrei um amigo, que mencionou uma professora, Petra, com quem aprendi muito do básico de cor... Acabei arrumando um trabalho onde tive de interromper as aulas, isso me fez parar de pintar de novo e durante um bom tempo!
Mas sempre estava lendo e estudando a respeito e li muito sobre as técnicas de tinta à óleo, então voltei depois de muitos meses na Petra . Ela me disse que não mexia com tinta óleo, mas indicou um artista, disse que o cara era bom, entendia muito de pintura.
Fui conhecer o tal artista que era, nada mais nada menos, que Alexandre Reider. Eu me lembro muito bem deste dia, porque minha forma de ver a pintura à óleo mudou. No dia em que fui visitar o estúdio, ele estava pintando um painel de mais de 7 metros de largura, por 3 metros de altura e eu pensei: “Esse cara não é bom, ele é um mestre!”
Neste dia tive o mesmo sentimento da biblioteca, fiquei super emocionado ao ver seu trabalho, afinal Reider é um artista fenomenal, mas de uma simplicidade e honestidade com as pessoas.
Saí do estúdio dizendo que faria pinturas em óleo e comecei a pintar. Com o início do curso, em pouco tempo, como não poderia ser diferente, eu percebi o potencial monstruoso que o Reider tem, aprendi muita coisa útil e fundamental sobre o óleo e tudo foi ficando muito claro pra mim, eu estava no lugar certo.

Abaixo: Série de trabalhos feitos em caneta esferográfica.

 

 

Hoje sou apaixonado por pintura a óleo, acho uma técnica fascinante... Só usando entendemos porque todos os grandes mestres a usavam com tanto afinco. Atualmente faço parte do Plein Air Studio, a convite do próprio Reider (dono e fundador do estúdio), lá dou aulas de desenho básico e também tenho meu espaço de trabalho, onde executo minhas pinturas.



Eu olho muita coisa, desde desenhos em HQs a obras de mestres renomados da pintura como Michelangelo, mas sem dúvida dois artistas me influenciaram muito: Norman Rockwell e Drew Struzan.
Sempre fui e sou apaixonado pela obra deles, apesar do meu trabalho não se parecer em nada à primeira vista. Mas sinto que tem algumas coisas semelhante sim. Um exemplo são as cores que o Drew usa, que eu tento sempre algo parecido no meu trabalho. 
Atualmente eu estou vendo muitos artistas que são totalmente diferentes entre sim, como: Jenny Saville, Jeremy Lipking.

CHARLES OAK - Sem título - Óleo sobre tela - 20 x 40

Leciono em dois espaços, um deles é o próprio Plein Air Studio e também na ArtAcademia que é uma escola especializada em animação 2D e 3D. Como é necessário um bom conhecimento de anatomia para uma boa animação, é aí que eu atuo, passando meus conhecimentos sobre essa área.
Eu adoro lecionar, porque ao mesmo tempo que ensino, aprendo muito também. A faixa etária  é em torno dos 15 a 25 anos, eles sempre estão atualizados com as novidades... Essa geração é muito mais ágil e voraz por informação. Assim acabo aprendendo muito com eles.
Estou sempre tentando dar um olhar mais contemporâneo em meus trabalhos. Gosto e “tento” usar o óleo de forma diferente. Como? Levando as pinturas mais para o lado das HQs, Ilustrações. Procuro cair para o lado mais vibrante das cores, gosto muito disso, de trabalhar o sentimento através das cores.
Eu gosto muito desta forma mais estilizada da figura humana, não gosto do trabalho muito hiper-realista ou fotográfico, eu respeito as regras de anatomia, mas sempre quero quebrar uma pontinha ali na imagem, para diferenciar da foto.


Vejo a Arte Figurativa hoje como um retorno dos verdadeiros artistas, afinal temos a capacidade de enxergar, interferir e brincar com a realidade.
Sempre estou testando misturas, materiais, formas de construção, para tentar conseguir um trabalho diferenciado e atual.
Eu ainda tenho um caminho muito grande a percorrer com a fine art, isso me move e me dá mais garra para executar e mostrar minhas obras.

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2 comentários:

  1. A vibração das cores do Oak é impressionante, seus trabalhos tem riqueza em cores, desenho e ousadia, bela matéria... bom fim de semana meu amigo.

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    1. Vidal, sempre prestigiando todos os artistas e deixando algo de bom. Obrigado, amigo, por passar sempre por aqui e nos fazer companhia. Tenha também um ótimo fim de semana!

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