segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ABE TOSHIYUKI

ABE TOSHIYUKI - Fluxo de rio - Aquarela - 30 x 44

ABE TOSHIYUKI - Luz da manhã - Aquarela

Poucos artistas conseguem dominar a insustentável leveza de uma técnica com tanta habilidade quanto Abe Toshiyuki, quando pinta aquarelas. Todo o respeito e admiração que o povo japonês tem pela natureza estão completamente representados nos trabalhos desse artista, nascido na cidade de Sakata City, em 1959. Admiração evidente para os pontos mais delicados da natureza que o cerca.


ABE TOSHIYUKI - Manhã de maio - Aquarela

ABE TOSHIYUKI - Luz da nova primavera - Aquarela

Toshiyuki estudou arte-educação numa universidade nacional, e por cerca de 20 anos trabalhou como professor de arte. Muita dedicação ao ensino lhe privava daquilo que era seu maior sonho: ter um tempo integral para a produção de suas obras. Somente em 2008, passou a focar seu trabalho na pintura de aquarelas e a viver exclusivamente disso. Já está colhendo os frutos merecidos, tendo o reconhecimento vindo em diversas exposições realizadas pelo país e com prêmios recebidos em várias delas.


ABE TOSHIYUKI - Arbustos ao sol - Aquarela - 32 x 45

ABE TOSHIYUKI - Luz incidindo sobre uma neve - Aquarela

ABE TOSHIYUKI - Reflexos - Aquarela

Segundo o próprio Toshiyuki, concentra naquilo que de mais sublime lhe rodeia, “a transitoriedade de um rio, a fragilidade das pétalas de uma cerejeira...” Conseguimos identificar em suas obras toda a filosofia de vida que o povo japonês persegue. Também para ele, “a arte é um espelho da alma de quem vê”. Ele comunga da ideia de que aquilo que vemos depende de nosso estado de espírito.


ABE TOSHIYUKI - Ao sol - Aquarela

ABE TOSHIYUKI - Luz de inverno - Aquarela

Uma das características básicas da obra de Toshiyuki é não pintar cenas de locais famosos, consagrados, que já se tornaram locais que os olhos acostumaram a ver. Ele prefere uma composição mais subjetiva, que traduza o estado interior de cada pessoa que observa os seus trabalhos, e que pode ser representada por qualquer curva de rio, de folhas caídas no outono ou até mesmo da neve em momento de degelo.


ABE TOSHIYUKI - Na luz suave - Aquarela

ABE TOSHIYUKI - No campo - Aquarela

Uma das maiores catástrofes dos últimos tempos no Japão, acontecida em março de 2011, acabou propiciando um trabalho coletivo de cerca de 30 artistas do nordeste japonês (entre eles Toshiyuki), gerando uma exposição e a publicação de um livro com imagens posteriores dos locais onde tudo aconteceu. A reconstrução de tudo que foi perdido começa no gesto voluntário e aparentemente pequeno de cada pessoa. Diante da magnitude dos danos naturais que ocorreram, a pequenez humana ganha dimensão na solidariedade de um povo que aprendeu, desde sempre, a se superar.

A arte de Toshiyuki sempre será um alento para qualquer momento!



PARA SABER MAIS:

sábado, 27 de outubro de 2012

ENTRE PARENTES


ANDREAS ACHENBACH - Paisagem em Hessen
Óleo sobre tela - 52 x 78 - 1868

OSWALD ACHENBACH
Jovem mulher descansando em um caminho iluminado pelo sol
Óleo sobre tela - 79,5 x 112

Não é muito raro encontrarmos familiares produzindo trabalhos de arte. Pais e filhos, irmãos e também casais já trabalharam juntos e se deixaram influenciar pelos seus mais próximos. Isso acontecia com mais frequência na Renascença até o Rococó, onde os ateliês eram verdadeiras oficinas, que atendiam grandes encomendas e demandavam uma mão de obra maior e com qualidade parecida. Famílias inteiras se davam ao trabalho de atender tais volumosas encomendas. Com o passar dos anos, porém, a arte foi ganhando um apelo mais individualista e se tornando algo mais próximo do que conhecemos hoje, o lugar onde cada artista expressa suas particularidades.

ANDREAS ACHENBACH - Rochedos com naufrágio
Óleo sobre tela - 48,5 x 63 - 1835

OSWALD ACHENBACH - Rua de Nápoles ao fim do dia
Óleo sobre tela - 53 x 72

A família Achenbach deu ao mundo dois grandes artistas, que produziram significativas obras em sua época e mudaram alguns conceitos estilísticos para o momento no qual viviam. Andreas Achenbach e Oswald Achenbach eram alemães, o primeiro nascido na cidade de Kassel, em 29 de setembro de 1815, e o segundo nascido na cidade de Düsseldorf, em 2 de fevereiro de 1827.

ANDREAS ACHENBACH - Ebbe
Óleo sobre tela - 1837

OSWALD ACHENBACH - Vista do Golfo de Nápoles
Óleo sobre tela - 77,5 x 100

Curiosamente Andreas, o irmão mais velho, começa os aprendizados de desenho e pintura exatamente no ano de nascimento de Oswald, quando ainda estava com 12 anos de idade. Friedrich Wilhelm Schadow foi seu primeiro tutor na Academia de Düsseldorf de Pintura. Andreas não se limitou ao ensino alemão, visitando por várias vezes a cidade de São Petersburgo, na Rússia, e algumas regiões da Itália, Holanda e Escandinávia. Essas visitas viriam a influenciá-lo pelos rumos de seus trabalhos futuros.

ANDREAS ACHENBACH - Clarão, Costa da Sicília
Óleo sobre tela - 82,5 x 116 - 1847

OSWALD ACHENBACH - No parque da Vila Borghese
Óleo sobre tela - 122 x 152 - 1886

Inicialmente, os trabalhos de Andreas tendiam para um pseudo-idealismo da escola romântica alemã, tendência que teve forte influência, por um bom tempo, sobre diversos artistas do país. Foi na sua passagem por Munique, em 1835, quando sofreu uma forte influência dos trabalhos de Louis Gurlitt, que a obra de Andreas tomou novos e decisivos rumos, tornando-se ele, o fundador da escola alemã realista. Andreas era um artista temperamental e embora muitas de suas composições pareçam sem um objetivo específico, tinha uma técnica espetacular, e os rumos que deu em seu próprio trabalho, tornaram-no historicamente como um reformador.

ANDREAS ACHENBACH - Paisagem de inverno com caçadores no gelo
Óleo sobre cartão - 26,8 x 39

OSWALD ACHENBACH  - Vista de Sorrento
Óleo sobre tela - 101 x 151

Já era um período em que Oswald, irmão mais novo, recebia as orientações e fortes influências de Andreas. Enquanto em Andreas percebemos a necessidade de firmação de uma nova linguagem, em Oswald já é notória uma preocupação mais evidente com os problemas sociais. Mais “lunático”, por assim dizer, Oswald era um artista mais idealista, que acreditava em causas ainda distantes para a realidade de sua época.

ANDREAS ACHENBACH - Caçador numa paisagem
Óleo sobre tela - 39 x 57 - 1854

OSWALD ACHENBACH
A entrada de um convento no Golfo de Sorrento
Óleo sobre tela - 132 x 110,5 - 1883

Em 1855, Andreas recebeu uma medalha de primeira classe para Paris e por lá foi nomeado Cavaleiro da Legião Francesa de Honra, um título muito desejado por todo artista da época. Mais tarde, o Chambers Biographical Dictionary classificaria Andreas como o pai da pintura de paisagens do século XIX, na Alemanha. Nesse mesmo período, Oswald também buscava novas terras para suas composições. A riqueza de suas cores e suas fortes composições levaram-no para a Itália, onde fez várias imagens da Baía de Nápoles e dos arredores de Roma. Também passou uma temporada na Suíça e na Baviera. Os dois irmãos foram professores na Escola de Düsseldorf.

                                   
Esquerda: Andreas Achenbach numa litografia de Adolf Dauthage.
Direita: Oswald Achenbanch num retrato feito por Ludwig des Coudres.

Oswald falece em 1 de fevereiro de 1905, vítima de uma inflamação nos pulmões. Seu irmão mais velho ainda viveria mais 5 anos, vindo a falecer em Düsseldorf a 1 de abril de 1910. Ambos traduziriam toda a necessidade de uma época que exigia mudanças. Mudanças no estilo, na temática e na maneira como produzir e divulgar arte, formando um grande número de discípulos e influenciando uma nova geração de pintores alemães. Seus trabalhos podem ser encontrados em todos os melhores museus e galerias da Alemanha. Muitas de suas obras acabaram se tornando, também, produtos cobiçados de vários colecionadores e galeristas dos Estados Unidos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

DOIS ARTISTAS BRASILEIROS


Dois artistas brasileiros, nascidos em épocas distintas e com carreiras bem singulares, mas que representam as muitas boas novidades que vamos encontrando por esse país. Artistas com trabalhos já reconhecidos no meio artístico e crítico, mas ainda distantes do conhecimento do grande público. Que essa presente matéria nos brinde com a alegria desses dois encontros.


JAYME CAVALCANTE

JAYME CAVALCANTE - Marinha - Óleo sobre tela - 28 x 42

Jayme Cavalcante nasceu a 8 de julho de 1938, em Salvador e foi um dos fundadores do Núcleo de Arte Fluminense - NAF, em 1969. Teve sua formação artística orientada para a pintura ao ar livre, com os professores J. Carvalho, Jair Picado e Aluízio Valle. No início da década de 1980, exerceu a função de consultor especializado em sistemas de apoio operacional para conservação e restauração, nas mostras História da Pintura Brasileira no Século XIX e Seis Décadas de Arte Moderna na Coleção Roberto Marinho.
Jayme Cavalcante mora em Niterói e também participa de um grupo de artistas plásticos chamados "Pintores da Beira do Cais", que têm a experiência de pintar ao ar livre, em locais públicos como praias e ilhas, um estilo de produção típico do século XIX. É exatamente com essa temática que ele nos alcança de uma maneira arrebatadora, compondo e executando suas marinhas como se fizesse disso um sacramento.
Dentre as inúmeras exposições individuais de Jayme Cavalcante, destacam-se as realizadas no Espaço Cultural Novotel, Niterói, 1979; na Galeria Borghese - RJ, 1980; no Espaço Cultural Moviarte - RJ, 1991; no Saguão Cultural Bolsa do Rio - RJ, 1994 e no Museu Antonio Parreiras, Niterói, 1995.

JAYME CAVALCANTE - Vista de praia em Niterói - Óleo sobre tela - 37 x 75

Participou de diversas exposições coletiva, dentre as quais a Moderne Brasilianische Kunst, Hanover - Alemanha, 1980; Galeria do Campo, Niterói, 1981; William Doyle Galleries - Nova York, 1985; Galeria Ranulpho - SP, 1987 e 1988; Moviarte, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1991; Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, 1994 e Museu do Ingá, Niterói, 1995.
Sua pintura tem merecido diversos prêmios em salões de arte, dentre eles Medalha de Ouro na 1a. Coletiva de Pintura do NAF, Niterói, 1969; Medalha de Prata no 1o. Salão Niteroiense de Pintura, 1970; Medalha de Bronze em Pintura no 76o. Salão Nacional de Belas Artes - RJ, 1971; Medalha de Bronze em Desenho no 81o. Salão Nacional de Belas Artes - RJ, 1976; Medalha de Bronze da Sociedade Acadêmica Phoenix Naval - RJ, 1976 e Medalha de Ouro no 1o. Salão Oswaldo Teixeira, Petrópolis, 1982.
Sua obra está citada em várias publicações, entre as quais La cote de peintres, de Akoun - Paris, 1994; Artes plásticas Brasil 92, de Júlio Louzada - SP, 1992; Dicionário de pintores do Brasil, de João Medeiros - RJ, 1988 e Dicionário brasileiro de artistas plásticos, de Carlos Cavalcanti - Brasília, 1973. Além disso, a pintura de Jayme Cavalcante integra as coleções da Câmara Municipal de Sabrosa, Portugal; da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, SP.
Seguem dois documentários sobre Jayme Cavalcante. Imperdíveis!




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S.QUIMAS

S. QUIMAS - Renascimento, amanhecer no pinheiral - Óleo sobre tela - 46 x 61

— O que você quer de presente de aniversário? — perguntou a mãe, curiosa.
— Quero duas caixas de aquarela, um jogo de pincéis e papel grande. Vou ser um artista. — disse o menino de 10 anos de idade de modo resoluto.

Essa cena se passou bem no início dos anos 70, época em que a ditadura militar se firmava no Brasil com rigor extremo, época também dos “bichos-grilos”, da geração hippie, herdeira de Woodstock, do ideal da paz e amor.
O menino, nascido em 1961, na cidade serrana de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, haveria de, nos anos seguintes, tornar seus sonhos realidade. Frequentou o atelier do artista plástico e ceramista Mario Cesar Higgins Ferreira, que não apenas foi orientador na sua arte, como também conselheiro, amigo e, por que não dizer, pai espiritual. Cesar, como era conhecido o amigo artista, ensinou os rudimentos do desenho e pintura artísticos. Foram muitos vasos de cerâmica, objetos, e até um poleiro de papagaio, representados até a perfeição, através do desenho. Largas lições de perspectiva, luz e sombra. Esporadicamente, também orientou quanto à pintura ao menino, que, incansavelmente, pintava, pintava, desenhava, pintava, até a exaustão.

S. QUIMAS - Rio Cônego - Óleo sobre tela

Os passos dados por toda a adolescência foram duros, pois sua família preferiria que o então rapaz seguisse uma carreira mais formal, talvez engenharia ou medicina. Contudo, a alma do artista já tinha selado o seu destino e vocação: a arte. Desde os quatro anos, idade em que aprendeu a ler, consumia, com prazer delirante, os livros de arte da biblioteca de seu pai.
Além das artes plásticas, S. Quimas (Nome artístico de Oswandil Siveira Quimas) sempre teve pendor para a literatura e poesia, as quais, assim como a pintura, foram suas companheiras sempre presentes.


S. QUIMAS - Abandono - Óleo sobre tela


Ainda adolescente, devido o seu dom para a criação gráfica, passou a criar peças para gráficas, agências de publicidade e empresas, como ilustrações, desenvolvimento de peças publicitárias e toda a diversidade de trabalhos ligados ao design gráfico.
Aos dezenove anos, após cumprir o serviço militar no I Batalhão de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, retornou à Nova Friburgo, onde passou a exercer profissionalmente suas atividades ligadas à arte plástica e design. Na década de oitenta, lecionou desenho e pintura e fundou uma escola de arte (Atelier de Artes Nova Escola), que contava além de S. Quimas, outros artistas e músicos, que ministravam aulas em suas especialidades.


S. QUIMAS - Riacho das Flores - Óleo sobre tela - 30 x 40

No final dos anos oitenta, mudou-se para a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, onde lecionou desenho e pintura na AMBEP - Associação dos Mantenedores Beneficiários da Petros, ligada à Petrobrás e em outros estabelecimentos na cidade. Permaneceu diversos anos no Rio, com dedicação intensa a sua pintura e participou de exposições e competições de arte e, paralelamente, trabalhou na criação de design para empresas de porte, como Sony do Brasil, SulAmerica Seguros, Encyclopaedia Brittanica, Cartepillar, entre outras, consolidando assim a sua carreira como artista plástico e designer.


S. QUIMAS - Arrebentação - Óleo sobre tela

Em 1999 retornou do Rio para Friburgo, concentrando-se mais no seu trabalho como designer, e, apenas esporadicamente, participou de exposições de arte.
Nessa época cria, junto com seu sócio, Carlos Doady, uma produtora de vídeo e TV, e produz programas para a televisão a cabo. Foi durante os anos de 2003 a 2007, responsável pela restauração, reedição e autoração do DVD do filme “Geração Bendita”, produzido no início dos anos 70 por Carl Kohler, com a direção de Carlos Bini e direção de fotografia de Meldy Melinger.
Em 2007 e 2008, S. Quimas publicou no formato PDF, com acesso gratuito, os livros “Contos e Encantos” e “Palavras de Paz e Liberdade”. O primeiro, um livro de contos abordando diversos temas, e o segundo, um conjunto de ensaios de conteúdo anarcopacifista.
Entre outras realizações, o artista plástico também criou e dirigiu dois movimentos: o Movimento Mundial Nossas Crianças Especiais, com o objetivo de apoiar famílias de crianças portadoras de doenças raras e o Movimento Armas da Paz, voltado à divulgação e conscientização da doutrina da paz no mundo.


S. QUIMAS - Comidinha da vovó - Óleo sobre tela

No decorrer de sua carreira e até o presente, o artista sempre atuou paralelamente às questões sociais e faz de sua arte um meio de expressar seu amor pela Natureza e pela humanidade. O realismo naturalista explícito em suas telas, busca aflorar à sensibilidade do expectador, a beleza e grandiosidade da Criação.

Como ele define: “Minha arte é minha religião. Minha oração de agradecimento por minha sensibilidade e dom. Gratidão pelo sentimento e pela emoção que me eleva, que me faz apreciar tudo o que existe de belo no Universo”.


PARA SABER MAIS:

terça-feira, 23 de outubro de 2012

ARTE EM MINAS: Um novo tempo

JOÃO BOSCO CAMPOS - Paisagem com carro de boi - Óleo sobre tela
Mancha inicial, obra inacabada

João Bosco Campos foi o artista homenageado no primeiro
café com arte promovido pela Contemplo Galeria de Arte.

Artistas participantes do primeiro encontro, em tradicional foto nas escadarias da galeria.

A Contemplo Galeria de Arte dá um passo à frente no quesito incentivo à arte mineira e aos artistas que aqui produzem algo. No último sábado, dia 20, um café e bate-papo com a presença de diversos artistas mineiros do cenário atual, marcaram o que será um novo momento da arte figurativa em Minas Gerais. Esse movimento, que inicialmente tem a intenção de acontecer em um sábado a cada mês (ainda não definido o dia exato), visa resgatar o encontro entre os artistas desse estado, bem como integrar os movimentos que atuam e promovem a arte figurativa de Minas.
O artista homenageado nesse primeiro encontro foi João Bosco Campos, sobre o qual foi lançada a iniciativa de se produzir um livro sobre sua vida e obra, com narrativas dos artistas amigos que acompanharam sua carreira. João Bosco foi um dos expoentes da arte impressionista em Minas Gerais, oxalá um dos nomes mais respeitados da arte brasileira na atualidade. A cada encontro, um tema será escolhido para ser homenageado.
Artistas que estiveram presentes nesse primeiro evento: Hilton Costa, Mauro Ferreira, Luiz Armond, Rui de Paula, Sebastião Eduardo, Davi Jupira, Aroldo Paiva, Rubens Vargas, Batista Gariglio, Wagner Bottaro, Juçara Costta, Léo Brizola, Atacir Costa, Cecília Cunha, Maria Tereza Cunha, Márcia Valadares, Valmir Silva, Damasceno, Júlio Hubner, Daniel Rebouço, Júlio Alves e Vinícius Albuquerque. Infelizmente não pude estar presente, mas não perderei os próximos.
A Contemplo Galeria de Arte está localizada na Rua Barão de Macaúbas, 261, Bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte/MG.
Que a ideia produza bons frutos e que eles perdurem por um bom tempo! 





sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CHARLES OAK


CHARLES OAK - Joana - Óleo sobre tela - 30 x 60

Tenho frisado, em matérias anteriores, sobre a versatilidade que é inerente à carreira de muitos artistas. Essa espécie de inquietude, que é um dom para muitos e que também se transforma num doce tormento, torna-se a gênese do que há de mais cobiçado no mundo da arte, a criatividade. É das adversidades e dos desafios do dia a dia, que nasce o artista irreverente e que se propõe estar sempre criando e buscando novas linguagens. Não é fácil conviver com mil ideias na cabeça, “trocando socos e pontapés” para ganhar vida em pincéis, canetas, lápis e toda forma de expressão. Uma inquietude que é nata dos jovens, que ainda não se deram ao conforto perigoso da maturidade de expressão, porque, como disse Picasso, “é na juventude que acontecem todas as revoluções”.
Charles Carvalho, que assina Charles Oak (muito próprio, por sinal), é um desses jovens talentos brasileiros que dá gosto de acompanhar. Fala a linguagem de seu tempo e a expressa com técnicas e sentimentos também de sua época. Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, reside atualmente na cidade de São Paulo. Deixo abaixo, um relato emocionante de sua carreira, narrado pelo próprio artista. Uma bela história sobre como tudo começou.

CHARLES OAK - Sem título - da Série Geisha Pop
Óleo sobre tela - 30 x 60

CHARLES OAK - Sem título
Óleo sobre tela - 30 x 60

Eu sou um artista autodidata, comecei a desenhar muito cedo, graças ao incentivo da minha mãe a essa prática. Pessoa maravilhosa, a quem devo tudo que consegui com a arte até hoje. Como ela não queria que eu e meu irmão ficássemos na rua, para evitar qualquer tipo de problema, trazia folhas e mais folhas, junto com canetinhas e réguas, para desenharmos. Então colávamos as folhas e desenhávamos, montando uma sequência com as folhas coladas, que atravessavam a casa toda. Era uma bagunça, mas ela adorava chegar e ver os desenhos. Por isso, tudo que tenho conquistado até hoje, com a arte, devo a ela.

CHARLES OAK - Entre azul - Óleo sobre tela - 60 x 30

Com o tempo, fui crescendo e aprendendo a necessidade e importância do estudo. Estive em algumas bibliotecas, onde conheci as obras de Stephen Rogers Peck e Andrew Loomis e fiquei maravilhado com o nível destes artistas. Esse foi o momento onde eu percebi que a arte tinha realmente entrado na minha vida. Decidi que seria dessa forma que passaria a viver, produzindo arte, já que na minha cabeça, eu precisava fazer algo que causasse aquele mesmo sentimento que tive quando abri os livros do Rogers Peck e Loomis. Daí veio a decisão de estudar mais a fundo, sempre por conta própria, pois não tinha uma condição financeira que me propiciava estudar arte.

CHARLES OAK - Tigrada - Óleo sobre tela - 40 x 20

Aos 16 anos fiz meu primeiro trabalho de publicidade, na época ganhei menos de 50 reais, voltei supercontente com o dinheiro no bolso. Lembro que meu  irmão gostava muito de Fliperama, cheguei em casa e o levei para jogar. Ao longo do tempo foram aparecendo mais e mais trabalhos de ilustrações para publicidade e comecei a trabalhar bastante com isso, consequentemente meu cachê aumentou também (rs).

CHARLES OAK - green lantern
HQ

CHARLES OAK - Sword and magic
HG

Depois de algum tempo, eu conheci um desenhista que estava tentando trabalhar com histórias em quadrinhos para aos Estados Unidos, Rodrigo Pereira, ele é um dos meus melhores amigos até hoje. Achei a ideia de trabalhar no mercado de HQs Americano muito louca e coloquei na minha cabeça que queria fazer isso também. Então conversando com o Rodrigo, ele disse que precisava ter um agente, alguém que falaria com as editoras. Era uma época que não tínhamos a Internet como hoje, as referências vinham pelo correio e, quando faltava alguma coisa, era enviada através do Fax.
O Rodrigo arranjou o tal agente e então decidi trabalhar com o mesmo que o Rodrigo trabalhava, fiz os testes que ele pediu e não demorou muito comecei a pegar alguns trabalhos no mercado americano. Ao mesmo tempo surgiram boas propostas aqui no mercado nacional de HQs e acabei saindo por um tempo do mercado internacional.

CHARLES OAK - Buffy Sample
HQ

CHARLES OAK - Sword and magic
HQ

Passados os trabalhos para o mercado nacional, voltei para o mercado americano, desta vez fiquei mais tempo, fazendo com que eu trabalhasse com grandes franquias, como: Wolverine, X-men, Batman, Red Sonja, entre outras. Fiquei mais de 10 anos trabalhando no mercado americano, através de um agente, aqui do Brasil.
Mas uma coisa me incomodava, toda vez que olhava minha carreira, eu sempre sentia que faltava alguma coisa, eu não sabia bem ao certo o que era... Até que comecei a pintar com tinta guache, para fazer alguns trabalhos pessoais.  Mesmo ficando horríveis, o ato de pintar me trazia paz e eu adorava fazer aquilo.

CHARLES OAK - Estudo em plein air
Óleo sobre tela - 30 x 40

CHARLES OAK - Estudo
Óleo sobre tela - 50 x 70

Eu queria pintar da forma tradicional. Então resolvi procurar uma escola, um lugar onde sentisse que pudesse atender as minhas necessidades. Foi muito tempo procurando, eu não achava ninguém que eu olhasse o trabalho e pensasse: “esse cara é muito bom!”. Fui deixando isso meio de lado, estava cansando de procurar e fui seguindo com o meu trabalho. Até que um dia encontrei um amigo, que mencionou uma professora, Petra, com quem aprendi muito do básico de cor... Acabei arrumando um trabalho onde tive de interromper as aulas, isso me fez parar de pintar de novo e durante um bom tempo!
Mas sempre estava lendo e estudando a respeito e li muito sobre as técnicas de tinta à óleo, então voltei depois de muitos meses na Petra . Ela me disse que não mexia com tinta óleo, mas indicou um artista, disse que o cara era bom, entendia muito de pintura.
Fui conhecer o tal artista que era, nada mais nada menos, que Alexandre Reider. Eu me lembro muito bem deste dia, porque minha forma de ver a pintura à óleo mudou. No dia em que fui visitar o estúdio, ele estava pintando um painel de mais de 7 metros de largura, por 3 metros de altura e eu pensei: “Esse cara não é bom, ele é um mestre!”
Neste dia tive o mesmo sentimento da biblioteca, fiquei super emocionado ao ver seu trabalho, afinal Reider é um artista fenomenal, mas de uma simplicidade e honestidade com as pessoas.
Saí do estúdio dizendo que faria pinturas em óleo e comecei a pintar. Com o início do curso, em pouco tempo, como não poderia ser diferente, eu percebi o potencial monstruoso que o Reider tem, aprendi muita coisa útil e fundamental sobre o óleo e tudo foi ficando muito claro pra mim, eu estava no lugar certo.

Abaixo: Série de trabalhos feitos em caneta esferográfica.

 

 

Hoje sou apaixonado por pintura a óleo, acho uma técnica fascinante... Só usando entendemos porque todos os grandes mestres a usavam com tanto afinco. Atualmente faço parte do Plein Air Studio, a convite do próprio Reider (dono e fundador do estúdio), lá dou aulas de desenho básico e também tenho meu espaço de trabalho, onde executo minhas pinturas.



Eu olho muita coisa, desde desenhos em HQs a obras de mestres renomados da pintura como Michelangelo, mas sem dúvida dois artistas me influenciaram muito: Norman Rockwell e Drew Struzan.
Sempre fui e sou apaixonado pela obra deles, apesar do meu trabalho não se parecer em nada à primeira vista. Mas sinto que tem algumas coisas semelhante sim. Um exemplo são as cores que o Drew usa, que eu tento sempre algo parecido no meu trabalho. 
Atualmente eu estou vendo muitos artistas que são totalmente diferentes entre sim, como: Jenny Saville, Jeremy Lipking.

CHARLES OAK - Sem título - Óleo sobre tela - 20 x 40

Leciono em dois espaços, um deles é o próprio Plein Air Studio e também na ArtAcademia que é uma escola especializada em animação 2D e 3D. Como é necessário um bom conhecimento de anatomia para uma boa animação, é aí que eu atuo, passando meus conhecimentos sobre essa área.
Eu adoro lecionar, porque ao mesmo tempo que ensino, aprendo muito também. A faixa etária  é em torno dos 15 a 25 anos, eles sempre estão atualizados com as novidades... Essa geração é muito mais ágil e voraz por informação. Assim acabo aprendendo muito com eles.
Estou sempre tentando dar um olhar mais contemporâneo em meus trabalhos. Gosto e “tento” usar o óleo de forma diferente. Como? Levando as pinturas mais para o lado das HQs, Ilustrações. Procuro cair para o lado mais vibrante das cores, gosto muito disso, de trabalhar o sentimento através das cores.
Eu gosto muito desta forma mais estilizada da figura humana, não gosto do trabalho muito hiper-realista ou fotográfico, eu respeito as regras de anatomia, mas sempre quero quebrar uma pontinha ali na imagem, para diferenciar da foto.


Vejo a Arte Figurativa hoje como um retorno dos verdadeiros artistas, afinal temos a capacidade de enxergar, interferir e brincar com a realidade.
Sempre estou testando misturas, materiais, formas de construção, para tentar conseguir um trabalho diferenciado e atual.
Eu ainda tenho um caminho muito grande a percorrer com a fine art, isso me move e me dá mais garra para executar e mostrar minhas obras.

PARA ACOMPANHAR: