domingo, 30 de setembro de 2012

COMPONDO COM A EMOÇÃO

ALFREDO RODRIGUEZ - A rosa amarela - Óleo sobre tela - 24 x 12
Alfredo faz um trocadilho com a expressão "rosa amarela". Uma menina bem loira segura uma flor, formando um par perfeito para sua composição. Ficamos em dúvida de quem seja a rosa em destaque. Ele realça tudo isso colocando as duas imagens contra um fundo com cores complementares, criando mais contraste e consequentemente provocando um impacto muito maior ao observador. Alterar a realidade e fazer uso da composição usando a criatividade é uma das maiores conquistas deixadas pela arte moderna.

Provavelmente uma das maiores conquistas da pintura moderna é a liberdade que o artista conquistou para poder expressar os seus trabalhos. Mais importante que a veracidade ao tema abordado, a emoção passou a ser o combustível para melhor compor aquilo desejado. Para a pintura, em especial, expressar aquilo que se sente e que o mundo oferece como oportunidade de expressão, tornou-se um dos aspectos mais gratificantes para se realizar algo. E como na pintura a cor é que comanda a atmosfera do trabalho, nada melhor que saber utilizar de todos os recursos possíveis para que a emoção que se deseja para uma composição, seja a emoção que será despertada em um observador futuro. Fugir um pouco da fonte de inspiração que está a sua frente e imprimir na sua composição as cores que vem de sua emoção trazem infinitas possibilidades para que o artista possa desenvolver um trabalho único e compensador.


ALEXANDER SAIDOFF - A bela adormecida - Óleo sobre tela - 91,44 x 121,92
O clima de mistério e tensão foram provocados nessa composição com muita maestria. Ao colocar uma figura em cores quentes contra um fundo em tons bem frios, Saidoff nos convida a focar a atenção em seu ponto principal da obra, a jovem deitada sobre a grama, prestes a cair sobre em um lago. É um artista que usa e abusa do realismo para fazer uma arte que nos leva para além da realidade, criando cenas cheias de simbolismos e misticismos.

É bom ter em mente que, mesmo se permitindo liberdade para expressar aquilo que se sente, é necessário não se esquecer que o trabalho ainda precisa conservar uma certa estrutura cromática. As cores não poder ser simplesmente jogadas na tela e não apresentarem coerência entre si.


PETER BERUZKOV - Estudo de verão - Óleo sobre cartão - 20 x 25 - 2010

Em cima e abaixo, duas demonstrações de como composições bem distintas expressam muito bem sobre o mesmo tema, o verão. Os dois artistas, impressionistas por natureza, conseguem uma forte carga emotiva em seus trabalhos. Beruzkov faz uma leitura quase expressionista em uma rápida abordagem do tema. Em seu trabalho, o que importa é o movimento, a captação de um breve momento de alguém que pinta ao ar livre. Metcalf, mesmo com uma leitura um pouco mais próxima da realidade, ainda assim, valoriza alguns elementos com as cores que vem de sua emoção.

WILLARD METCALF - Fim do verão - Óleo sobre tela

As cores podem beneficiar ou prejudicar uma composição, podem criar interesse ou fazer com ele se perca. Exemplo: Quer um clima quente de verão? Observe aquilo que está à sua frente, sinta como se estivesse dentro da cena e viva a sua composição. Sinta o calor das cores de um dia assim, da luz que é irradiada com facilidade e dos movimentos que uma cena assim oferece. Interprete tudo isso, mas preste bastante atenção na composição, no uso das cores complementares, nos contrastes fortes que um dia assim sugere e na força do colorido, sem abrir mão da coerência entre essas cores.


CYRUS AFSARY - Trilha da lua - Óleo sobre tela - 50,8 x 76,2
O conceito que temos de uma noite é de um lugar sombrio, com tons bem escuros, frios, no qual quase nada pode se ver. Cyrus nos mostra uma noite diferente, a sua noite, prateada, com uma lua que esbanja muita luz e domina toda a composição. Ao contrário de nossa noite imaginária, sua cena é quente e nos remete a um mundo de sonho no qual ele havia se sentido.

PORTINARI - Família de Retirantes - Óleo sobre tela
Em Portinari, nem as formas e nem as cores condizem em quase nada com a realidade. O que ele faz é nos prender com a maior atenção ao sofrimento de seus personagens, realçado nas feições dramáticas e reforçado por cores que não nos deixam sair dali. As figuras, pintadas em tons neutros, parecem aprisionadas num mundo quente e causticante.

DALE TERBUSH - Retorno do Éden - Óleo sobre tela
Como o próprio nome do trabalho sugere, sentimos estar em um paraíso. Dificilmente iremos encontrar uma cena assim na natureza, com cores tão milimetricamente compostas e com um cenário tão ideal. Usar dos recursos técnicos e da emoção é a chave para se conseguir uma composição de sucesso.

Muitas cenas, se forem reproduzidas fielmente a uma fotografia ou até mesmo quando estão sendo observadas, não causariam o impacto que nos provocam ao serem concluídas numa pintura, se os artistas não emprestassem a elas a sua emoção, sua maneira única e intransferível de ver o mundo e que fazem da arte esse canal de possibilidades que nunca se extingue.
Não custa relembrar uma célebre frase de Drumond: "A gente põe nas coisas as cores que tem por dentro".

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

POR DENTRO DE UMA OBRA - Túlio Dias

TÚLIO DIAS - Paisagem com vaca e bezerro - Óleo sobre tela - 90 x 150 - 2011

Muitas composições de Túlio Dias nascem da junção de várias fontes de informação, caso da cena acima, que foi formada à partir da compilação de várias imagens. Algumas de fontes próprias, outras recolhidas pela navegação na rede. O resultado é sempre uma cena fictícia, mas que remete a inúmeros lugares de Minas Gerais, principalmente das regiões montanhosas do centro/sul do estado.
A paleta é característica do artista, com verdes bem luminosos e muito zelo no trabalho dos detalhes. Fica sempre a sensação de já se ter passado por um lugar assim, depois de qualquer curva...

PALETA DE CORES:
. Branco de titânio
. Amarelo de Nápoles
. Amarelo de cromo claro
. Amarelo indiano
. Vermelho de cádmio
. Verde esmeralda
. Vderde veronese
. Azul ftalo
. Sépia
. Marrom Van Dick
. Azul ultramar
. Carmim







quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MANUEL HENRIQUE PINTO


MANUEL HENRIQUE PINTO em retrato
executado por Malhoa.

A história se faz, principalmente, pelo registro incansável daqueles que buscam, a posteriori, selecionar e organizar os dados que venham mostrar às gerações seguintes, o retrato mais provável do passado. Essa luta, feita com o maior prazer por aqueles que debruçam suas vidas em infindáveis buscas, é tudo aquilo que forma as informações que temos do mundo, do homem e da sua trajetória pelo tempo. Há tempos venho acompanhando a busca de Luís Borges da Gama e sua incansável e competente tarefa de nos trazer à tona a trajetória de um dos mais importantes pintores do Naturalismo Português: Manuel Henrique Pinto. Bisneto de M. H. Pinto, Luís Borges faz com muita competência, aquilo que todos devíamos nos propor, resgatar os dados de vida daqueles que, de alguma forma, contribuíram para episódios importantes da história. E não é fácil “tecer” uma história confiável de tempos passados, quando só nos restam “retalhos” desconexos e escassos.


MANUEL HENRIQUE PINTO - Estudo para esfolhando o milho, detalhe

Hoje é o centenário de morte de Manuel Henrique Pinto, e graças ao Luís Borges, uma série de atividades vêm nos lembrar desse artista português tão importante. Uma das mais louváveis iniciativas é a inauguração, no dia 29 desse mês, de uma exposição com desenhos inéditos, realizados por Manuel Henrique Pinto e Malhoa, no Clube Figueiroense, no município de Figueiró dos Vinhos, em Portugal. Exposição que se estenderá até o dia 11 de novembro desse ano. “A Duas Mãos”, título da mostra, traz 18 trabalhos realizados principalmente no período em que os dois artistas conviveram em Figueiró dos Vinhos.

MANUEL HENRIQUE PINTO - Entre o milharal
Óleo sobre tela - 135 x 94 - Museu Costa Pinto, Salvador, BA

Manuel Henrique Pinto nasceu em Cacilhas, em 1853 e faleceu em Figueiró dos Vinhos, no ano de 1912. Pintor pertencente ao primeiro time do Naturalismo Português, movimento que já foi citado em matéria anteriormente e que será indicado logo ao fim da matéria como complemento. Teve como mestres, na Academia de Lisboa, os artistas Joaquim Gregório Prieto, Tomás José da Anunciação e José Simões de Almeida Júnior.

MANUEL HENRIQUE PINTO - O almoço
Óleo sobre tela

MANUEL HENRIQUE PINTO - Convento de Figueiró dos Vinhos
Óleo sobre tela - 24 x 37

Tem uma trajetória regular, com sua primeira exposição inaugurada em 1874, na 10ª Exposição da Sociedade Promotora de Belas Artes, onde participa com três paisagens. Entre participações não muito bem sucedidas em concursos para pensionistas, fornecidos pelo Estado, dedica-se principalmente à restauração de pinturas antigas. Entre 1881 e 1889, participa de todas as exposições com o Grupo do Leão, uma assiduidade que não será compartilhada por todos do grupo, dando a Manuel Henrique Pinto um certo destaque dentro do movimento. M. H. Pinto foi muito bem retratado na célebre tela que Columbano fez do grupo. É ainda jovem, representado na cabeceira da mesa.

MANUEL HENRIQUE PINTO - Pescadores do Nabão
Óleo sobre madeira - 54 x 38 - 1903

MANUEL HENRIQUE PINTO - Convento de Figueiró dos Vinhos - Óleo sobre tela - 1905

Teve uma vida artística bem prolífica, com produção variada e bem representativa. Participou de diversas exposições em toda sua trajetória, tanto no seu país de origem como em outras nações, com destaques para exposições em Paris, Madri e Berlim. Também foi professor de desenho industrial, uma função criada por decreto. Teve, enfim, uma vida dedicada àquilo que mais gostava de fazer.

MANUEL HENRIQUE PINTO - A saída do rebanho
Óleo sobre madeira - 40,5 x 31,6 - Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Deixo os meus cumprimentos ao amigo Luís Borges, pelo resgate sistemático e contínuo que vem fazendo da trajetória de Manuel Henrique Pinto, e socializando, de uma maneira louvável, todos os dados que tem recolhido nesses anos de busca. Desejo que possa reunir o maior número de dados possível e assim confirmar aquela máxima que todos já conhecemos muito bem: “um homem só é eterno quando o seu trabalho permanece”.

MANUEL HENRIQUE PINTO - O amanho das abóboras - Óleo sobre tela - 49 x 74

PARA SABER MAIS:

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O MUNDO DA ARTE


Três endereços para você adicionar à sua lista de favoritos e não tirar mais.
Gilberto Geraldo já faz uma contribuição ao mundo da arte, como artista, há um bom tempo. Também virou referência pelas suas páginas de blog, por nos dispor obras com uma resolução maior, permitindo uma visualização bem acima da média que se encontra pela rede. Em sua mais nova página, O Mundo do Pintor, tive a honra de estar inaugurando a seção Artistas Brasileiros. Agradeço imensamente essa oportunidade.

JOSÉ ROSÁRIO - Voltando da pesca - Óleo sobre tela - 50 x 60 - Detalhe

JOSÉ ROSÁRIO - Arrumando a carga - Óleo sobre tela - 50 x 70 - Detalhe

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

POR DENTRO DE UMA OBRA: Helvécio Morais

HELVÉCIO MORAIS - Caminho - Óleo sobre tela - 55 x 85 - 2012

Devo admitir que tenho uma admiração muito grande por todos os artistas ligados à Escola de Edgar Walter, principalmente os mineiros, com os quais convivo. Talvez seja mesmo por causa da cumplicidade com a temática, que estão no meu dia a dia com uma intensidade inevitável. Gosto do colorido, da fatura, da riqueza da paleta, do tema em si...
Helvécio Morais possui todas as características que citei acima e sempre se mostrou bem fiel à essa mineiridade que é nata a todos que pintam por aqui.
Essa cena, detalhada nessa matéria, é uma espécie de arquétipo da paisagem mineira. Tem todos os elementos diretamente ligados a tudo que foi defendido nos ensinamentos do Edgar Walter. É uma imagem de muitas possíveis curvas de qualquer estrada  mineira com as quais ainda podemos nos aventurar pelo interior do estado. A pintura é de um frescor único e realizada com uma maestria digna de poucos paisagistas.







segunda-feira, 17 de setembro de 2012

UM ESTUDO FINAL


Foi realmente um final de semana bastante produtivo aqui em Dionísio, com as visitas de Juliana Limeira e Vinícius Silva. Saímos para visitas em diversos locais da cidade e foram feitos vários exercícios em todos eles, além de outras saídas para seções de fotografias. Há uma variedade muito grande de ambientes por aqui e não faltaram bons motivos para fotografá-los.
Sobrou tempo ainda para um exercício com modelo vivo numa noite de domingo. O amigo Brênio fez a honra para nossos estudos. Um seção de cerca de 3 horas, que acabou gerando um estudo à óleo acabado pela Juliana, um inacabado pelo Vinícius e estudos a lápis feitos por mim.
Muito aprendizado em apenas dois dias e aquela sensação de que o tempo voa, quando há vários motivos para não querer percebê-lo. 
Saúde e paz aos amigos Juliana e Vinícius pra que possamos encontrar em outras vezes!





JULIANA LIMEIRA - Estudo de Brênio - Óleo sobre tela

domingo, 16 de setembro de 2012

AYDEMIR SAIDOV


Irmãos gigantes - Óleo sobre tela - 50 x 55

Sem título - Óleo sobre tela - 50 x 70

Para mim, uma das maiores vantagens da internet é exatamente tornar acessível a todos, em qualquer parte do planeta, qualquer tipo de informação. Hoje pela manhã, a Juliana Limeira compartilhou os trabalhos de um artista russo, que acabei não resistindo e compartilhando com todos que aqui visitam. Até já havia visto algo sobre esse artista antes, no excelente blog do Gilberto Geraldo, que é um dos maiores divulgadores da arte russa no nosso meio, exatamente por estar vivendo lá em São Petersburgo já faz um bom tempo. E cá entre nós, tudo que é bom tem que ser mesmo divulgado.

Azul do Mar Negro - Óleo sobre tela - 50 x 70

Caminho - Óleo sobre tela - 55 x 95

O Salvador - Óleo sobre tela - 40 x 60

Aydemir Saidov nasceu a 29 de março de 1979, filho de uma família de artistas. Em 2000, formou-se pelo Krasnodar Art College e em 2006 recebeu, pela Academia de Artes Ilya Repin, através do Instituto de Pintura, Escultura e Arquitetura de São Petersburgo, a qualificação de pintor.

Natureza morta com tangerinas - Óleo sobre tela - 50 x 100

Natureza morta com uma romã partida - Óleo sobre tela - 55 x 138

                 
Esquerda: Rosas - Óleo sobre tela - 40 x 50
Direita: Buquê de sol - Óleo sobre tela - 40 x 50

Possui um realismo de altíssimo nível e explora diversas temáticas. Impossível não citar suas belas cenas de montanhas e suas naturezas mortas muito bem compostas. Seus nus possuem um certo simbolismo e nos mostram também uma versatilidade estilística, uma vez que possuem uma técnica um pouco diferenciada dos trabalhos mais realistas.

Nu - Pastel sobre papel - 32 x 55

Orquídea - Óleo sobre tela - 70 x 50

A Rússia sempre se primou por uma escola de desenho rigorosa, com excelentes academias e centros de ensino de desenho e pintura com técnicas muito apuradas. O resultado é visível nos muitos jovens artistas do país, que já nos mostram um trabalho consistente e de altíssimo nível. Méritos para a rede mundial de comunicação, que nos permite socializar tanto conhecimento e tão boas referências.

Dia feliz - Óleo sobre tela - 50 x 70

Sinfonia do silêncio - Óleo sobre tela - 30 x 60

PARA SABER MAIS: