quinta-feira, 11 de agosto de 2011

NOSSA IMAGEM ATUAL

DAVID ALFARO SIQUEIROS - Nossa Imagem Atual
Piroxilina sobre masonite - 220 x 172 - 1947
Palácio das Belas Artes - Cidade do México

Considero esta, uma das mais completas obras da História da Pintura. Primeiramente pela precisa expressividade da mensagem, segundo pela beleza plástica, e finalmente pela contemporaneidade da técnica, um experimento, para a época em que foi realizada.
Nossa Imagem Atual é uma das obras mais atemporais para mim. Será contemporânea em qualquer época. Siqueiros nos quer mostrar a imagem dos povos subdesenvolvidos em relação às ditas “Grandes nações do mundo”. Foi uma crítica direta, em sua época, à condição da América Latina ao imperialismo econômico do norte. A situação parece não mudar nunca, as nações de terceiro mundo estarão sempre assim, em condição de pedintes, humilhados, humilhantes, estendendo as mãos aos restos que decidem liberar as grandes potências. Povos sem face, incógnitos, que não conhecessem sua real identidade e talvez nunca venham a conhecê-la. Estão na América Latina, África e em cantos segregados da Ásia. Não pedem apenas o alimento da sobrevivência. Negam também suas culturas locais, tão ricas, e buscam uma cultura globalizada, enlatada, pronta apenas para ser digerida. Uma cultura que tem o interesse puramente de fazer girar a grande roda da economia capitalista que escraviza e oprime.

DAVID ALFARO SIQUEIROS - A Nova Democracia - 1945
Palácio de Belas Artes - Cidade do México

David Alfaro Siqueiros, um artista inconformista por natureza, foi uma das mais importantes figuras da pintura muralista mundial. Formava com Rivera e Orozco, o trio célebre da pintura mexicana. A pintura de mural surgiu como uma forma de protestar contra a tradicional pintura de cavalete, uma arte elitizada e individualizada. A proposta era exatamente socializar, tirar dos limites de salas e galerias, e colocar a arte em contato com o povo, em seu local de vivência, comum, público. Por isso não é difícil entender porque o movimento não foi apenas um “revival” artístico, mas o pilar mais forte de toda a revolução social de uma nação, que busca na origem de seus antigos povos (maias e astecas), combustível que alimentaria o ressurgir de um novo México, voltado conscientemente para a criação de uma grande arte e uma grande ciência.

DAVID ALFARO SIQUEIROS - Cuauhtemoc Reditivo
Piroxilina - 80 m² - 1951

É impossível separar o Siqueiros artista, do militante político convicto e extremado, o que lhe valeu várias prisões e exílios. Buscando asilo nos Estados Unidos em 1932, monta um ateliê experimental, onde descobre e aplica diversos materiais até então não utilizados. Volta ao México em 1940 e é acusado de participar de um atentado contra Trótski. Mais uma vez expulso de seu país, realiza murais no Chile, Cuba, e em 1950, obtém o Grande Prêmio da Bienal de Veneza. Também esteve na América Latina, fazendo conferências, inclusive no Brasil.

DAVID ALFARO SIQUEIROS - Mosaico no Prédio da Administração Central da Universidade da Cidade do México - Entre 1952-53

A vida de Siqueiros, tanto artística quanto particular, tomaria rumos inéditos quando, em desentendimento com Rivera, a velha amizade se transformaria num violento antagonismo. Siqueiros era fiel a uma filosofia comunista bem ortodoxa, enquanto Rivera, em apoio à Trótski, tefendiam uma linha de comunismo internacional. Depois de vários dissidentes e muitos dissabores, Trótski é assassinado em um segundo atentado. É à partir desse fato, que Siqueiros parte para um exílio voluntário nos Estados Unidos e em Cuba, e só retornaria ao México em 1944.

DAVID ALFARO SIQUEIROS - O Eco do Pranto
Duco sobre masonite - 130 x 100 - 1937
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

Os murais mais importantes de sua carreira foram produzidos após seus retorno ao México e o fim da Segunda Guerra Mundial. São de merecidos destaques, obras como A Nova Democracia, Cuauhtemoc contra o Mito, Cuauhtmenoc Reditivo e A Universidade para o Povo e o Povo para a Universiade.
"Siqueiros pintou instalações radiofônicas fora da atmosfera terrestre, anos antes do satélite de comunicações Eco I. Traçou veículos cosmonáuticos, um ano antes do primeiro Sputnik. E completou em 1958, a Apologia da Futura Vitória da Ciência Contra o Câncer, que espelha sua crença no triunfo da Ciência Livre, um dos postulados básicos de sua arte. No cárcere pintou cerca de duzentos quadros em dois anos, e projetou um novo mural, A Marcha da Humanidade, que executou já em liberdade."
Ottaviano de Fiore

DAVID ALFARO SIQUEIROS - Estudo para Nossa Imagem Atual
Coleção particular, Milão


Ficaremos devendo eternamente a presença de tão singular figura na História da Arte. Ele não só defendeu seus ideais com inventividade e genialidade, como adequou que as obras murais ganhassem as ruas, executadas em pigmentos que ele próprio elaborou com o auxílio de amigos químicos. Trouxe para o povo, o objetivo final de sua obra, não imagens para se acrescentarem na História da Arte, mas o resgate à dignidade e à luta pelos seus objetivos. Não é só na excelência de seus novos materiais, que falam a linguagem de um novo tempo, que a sua arte resiste, mas também porque foi, até o fim de seus dias, o último muralista mexicano a defender com unhas e dentes, os ideais da revolução de seu país. Antes de qualquer coisa, faz a integração perfeita do artista com o ser humano, preocupado com suas causas de lutas mais básicas, e com o inquietante compromisso de deixar para o mundo, os sonhos de um experimentador e excelente criador que foi até a última de suas obras.

David Alfaro Siqueiros
Chihuahua - 29 de dezembro de 1896
Cidade do México - 6 de janeiro de 1974

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