quinta-feira, 30 de junho de 2011

FOTOGRAFIA E PINTURA

        
JOSÉ ROSÁRIO - Pequeno congado
Óleo sobre tela - 35 x 22 - 2009
Ao lado, fotografia utilizada como referência.

Desde que a fotografia foi aperfeiçoada, em 1841, e nos apresentada na forma como a conhecemos hoje, muita coisa mudou no mundo das artes. É bem provável que o advento da fotografia decretasse o final da arte acadêmica propriamente dita, uma vez que para retratar algo tal qual é, muitos instrumentos desenvolvidos ao longo de todos esses anos, prestassem para isso com mais precisão. A arte acadêmica não morreu, a fotografia ganhou movimento e o nascer do cinema trouxe ainda infinitas possibilidades para fazer e expressar arte. Com esses dois fortes aliados, a liberdade teve que ampliar seu significado.

 Fotografia de referência

CLÁUDIO VINÍCIUS - Volta de estrada
Óleo sobre tela - 70 x 100 - Coleção particular

Os conceitos mudaram bastante, e isso não há como negar. A representação de algo extraído do natural (paisagens, retratos, arranjos e construções) passou a adotar a expressão e as sensações como requisitos muito mais importantes do que a representação fiel daquilo que se vê. Interpretando aquilo que está diante de si, dentro da sua maneira de ver, o artista reproduz sensações exclusivamente suas, e por isso mesmo incomparáveis por qualquer efeito fotográfico.

Fotografia do fuzilamento de Maximiliano, Imperador do México.

EDOUARD MANET - A Guerra Civil
Aguada e aquarela - 46 x 32,5 - 1871
Museu de Belas Artes, Budapeste

EDOUARD MANET - Execução do Imperador Maximiliano
Óleo sobre tela - 252 x 305 - 1867
Mannheim, Stadtische Kunsthalle

Na obra acima, executada por Edouard Manet, nota-se
claramente a influência da fotografia feita durante o
fuzilamento do Imperador Maximiliano. 
 Uma referência fotográfica não precisa ser
necessariamente a reprodução fiel da mesma. 
Um estudo em aguada mostra também
o quanto o artista explora o mesmo tema,
em ocasiões diferentes.

Embora seja um tema em vários pontos polêmico, a fotografia como referência para a produção artística tem seus defensores, mas também seus fortes adversários. Esses últimos alegam que a cópia fiel de uma foto, nada mais é que uma transposição de imagens, ação isenta da menor criação artística. Seus defensores, em contrapartida, dizem que a fotografia é apenas um grande aliado tecnológico, que veio incrementar recursos no processo produtivo de uma obra. Alegam ainda que grandes nomes como Picasso, Dégas, Manet, Courbet, Dali, Delacroix e muitos outros, incorporaram tais “auxílios” em suas obras, e que elas não diminuíram em nada, o respeito e o valor que são dados aos seus trabalhos.

 Beira do Piracicaba - fotografia.

JOSÉ RICARDO - Beira do Piracicaba
Óleo sobre tela - 70 x 110
Acervo José Rosário

Somente os artistas conscientes sabem usar das vantagens desse recurso, seja para a complementação de esboços ou no arquivamento de várias informações que venham a enriquecer o processo criativo na produção de uma obra. Eles também são sabedores que a comodidade de uma informação fotográfica tende sempre a gerar inseguranças no ato do desenho, e que muitos venham a criar laços de dependência muito grandes com essas referências. A pintura em plein air, ou mesmo a prática de esboços feitos do natural, são bons desafios para saber em que grau de dependência o artista está, com relação ao uso de fotos em seu trabalho. Nesse momento não há recurso intermediário entre o artista e o ambiente que lhe serve de referência.

 Lavadeira - fotografia

EDGAR WALTER - Lavadeira
Óleo sobre tela

Observe como a fotografia de referência foi
alterada em função da composição.
Elementos foram subtraídos e outros
adicionados para que a obra ganhasse o
ponto de interesse na figura da lavadeira.

A fotografia capta momentos de raras luzes, que se perdem rapidamente numa abordagem ao ar livre. Também é muito útil para congelar movimentos, impossíveis de se fixar num outro método. Mas a maior vantagem na referência com fotos, é que se torna possível reunir várias delas para formar uma única cena, atividade aliás, das mais usadas pela maioria dos artistas, e que obriga o processo criativo em um grau diferenciado dele.

          
À esquerda: Estrada do velho jacarandá, Dionísio - fotografia de referência
À direita: VINÍCIUS SILVA - Estrada do velho jacarandá (estudo)
Óleo sobre tela, 18 x 24 - 2011

VINÍCIUS SILVA - Estrada do velho jacarandá
Óleo sobre tela - 50 x 70 - 2011
Acervo de José Rosário

A tecnologia tem sido muito generosa para a captação cada vez mais fiel da cena retratada, deixando as câmeras cada vez mais eficientes e muito mais fáceis de serem utilizadas. Mas, essa é uma tentação que deve ser vista com reservas. Não se esqueça que uma câmera, por mais evoluída que seja, é apenas uma máquina. É você, como artista, que decide qual efeito realçar em sua cena, que imagem acrescentar ou excluir para que a obra caminhe o máximo possível dentro da sua intenção. Câmeras, por mais reguladas que estejam, ainda tendem a simplificar as tonalidades, muitas vezes deixando as áreas de sombras muito escuras, ou também realçam mais algumas cores que outras. Quando você comparar a foto com a cena ao vivo, verá quantas sutis e preciosas diferenças se encontram nas duas.

Fotografia de referência

THEODORE ROBINSON - Duas em um barco
Óleo sobre cartão - 23,5 x 34,8
The Phillips Collection, Washington

Mesmo artistas tão experientes, aplicam recursos para
melhor utilizar sua referência fotográfica. Caso de
Theodore Robinson, quadriculando imagem de
referência, logo acima.


Há também muitos outros recursos que facilitam a vida do artista, no que diz respeito a ampliação da fotografia usada como referência para pintura. Alguns fazem uso de quadriculados, outros usam antigos instrumentos como o pantógrafo e ainda há pessoas que projetam tais fotos nas telas, por meio de projetores, para copiarem seus contornos. São processos que agilizam o fazer, mas que distanciam bastante da real intenção de produzir arte, ou seja, representar aquilo que é a sua visão única e intransponível de um tema.

SCOTT PRIOR - Fotografia de referência

SCOTT PRIOR - Estudo à lápis - 1991

SCOTT PRIOR - Toalhas e luz do sol
Óleo sobre tela - 61 x 61

De posse da escolha de uma fotografia para servir como referência para seu trabalho, é preciso que você faça uma análise criteriosa para decidir sobre o que deve ser acrescentado, excluído ou modificado, para que esta referência produza bons resultados. Por isso, reproduzir uma foto que você mesmo tenha feito, seja bem mais fácil para compor seu trabalho, do que se orientar por uma foto realizada por outra pessoa. Quando você mesmo fotografa, aquele tema já havia lhe despertado algum interesse, tal cena já formava em sua mente, um esboço de uma obra.

 Fotografia de referência

TÚLIO DIAS - Estrada do interior
Óleo sobre tela - 100 x 150

Toda composição passa por criteriosos processos para se transformar numa obra tecnicamente correta e artisticamente agradável de se ver. Os conceitos iniciais para qualquer composição, também devem ser levados em consideração na hora de utilizar a foto como referência. Profundidade, proporção, localização do ponto de interesse principal, distribuição de cores, correta representação de fontes de luz e volumes. Todos esses itens podem não estar em conformidade na foto que você dispõe a desenhar ou pintar, portanto não hesite nenhum momento em fazer as correções que sejam necessárias.

         

As duas referências acima serviram para a
conclusão da obra abaixo.
A paisagem foi idealizada em função da composição.

JOSÉ ROSÁRIO - Matando a sede
Óleo sobre tela - 60 x 100 - 2011

Combinar fotos para compor uma cena possui alguns segredos que não podem ser desprezados. Verifique se as fotos que irá combinar tenham a mesma fonte de luz, proporções adequadas e se também apresentam riquezas de detalhes compatíveis entre si. No item perspectiva, fique atento se o ângulo de visão nas duas referências é o mesmo, do contrário, poderá gerar grotescos erros de profundidade. A proporção é outro item de extrema importância, e quando incluem figuras humanas o cuidado deve ser ainda maior. Compare a proporção das figuras humanas com construções à sua volta, bem como a arbustos e animais, caso existam.

PAULO DE CARVALHO - Foto-montagem

       

O artista carioca Paulo de Carvalho lançou
mão de vários recursos até concluir sua obra.
Na foto superior, foto-montagem feita por
ele mesmo no local escolhido. Nas duas imagens
acima, um quadro de Antonin Fanart (esquerda)
serviu como referência para as figuras que ele
também representou. De Thomas Hill (direita),
o efeito dramático causado pelas gradações de
luz e sombra também foram sua influência.
O resultado é uma tela panorâmica que
ambienta bem uma cena do século XIX.

PAULO DE CARVALHO - Vista do alto da serra, Petrópolis
Óleo sobre tela - 10 x 40
Coleção particular

Grandes visões panorâmicas, que não são conseguidas, mesmo pelas máquinas mais avançadas, podem ser compostas pela união de duas ou mais fotos. Mais uma vez, deve-se ficar atento à diferenças exageradas com relação à mudança de luz e perspectiva. Quando já tiver em mente fotografar para unir cenas numa mesma panorâmica, coloque a máquina num ponto fixo, de preferência um tripé, para que não ocorram eventuais problemas na montagem. Não custa relembrar que selecionar apenas os elementos mais atraentes de suas “fotos-esboços” ainda é uma das regras mais sensatas a seguir.

 Fotografia de referência

FERDINAND PETRIE - Pôr de sol
Aquarela

De posse de todas essas informações, use a fotografia como uma referência a seu favor. Mesmo diante de tantos recursos, a emoção que você consegue imprimir em seu trabalho é muito mais importante que uma eficiente reprodução que nada transmita.


PETER HENRY EMERSON - Preparando a armadilha
Fotografia

THOMAS FREDERICK GOODALL - A armadilha
Óleo sobre tela - 83,8 X 127
Walker Art Gallery, Liverpool

domingo, 26 de junho de 2011

A ARTE NAS CAPAS DE DISCOS

PINK FLOYD - Dark side of the moon
NIRVANA - Nevermind

Talvez duas das capas mais emblemáticas da história do rock.
A primeira lançada no auge da Guerra Fria que dividia o mundo, e que
pregava a música como um prisma que transforma e melhora nossas vidas.
A segunda, o retrato mais fiel do que foi a geração 90, a inocência
da vida corrompida desde cedo por um capitalismo cada vez mais selvagem. 

O rock me chegou quando tinha 16 anos de idade. Ele veio por um amigo de nome Marcos, e era a metade da década de 80. Os anos 80 foram sem precedentes na história da música mundial. Em todos os lugares, uma quantidade enorme de estilos, bandas e músicos surgiram numa explosão difícil de ser superada. Não sou o único a afirmar que os anos 80 formam uma década que não acabou. Ainda continua viva na mente de todos que a viveram.


YES - Anderson, Bruford, Wakeman e Howe
URIAH HEEP - The magician's birthday
ASIA - Asia

O talento ilustrativo de Roger Dean presenteou o mundo
do rock com diversas e excelentes capas. 

Duas fitas cassete foram os presentes que me apresentaram esse novo estilo musical. Entendia muito pouco do que pregava aquele movimento, mas era impossível não gostar de cara, das canções melódicas do Scorpions, Uriah Heep, UFO e Whitesnake, que estavam naquelas duas gravações. Para iniciantes como eu, as baladas metais parecem ser mesmo os melhores caminhos para entrar no mundo do rock.


MARILLION - Misplaced Childhood
METALLICA -  Ride the lightning
IRON MAIDEN - Fear of the dark

Três representantes de estilos bem distintos. Marillion e seu 
rock progressivo "a la Genesis", Metallica e o início do trash metal, e Iron Maiden,
que é desde sempre, referência obrigatória do heavy metal tradicional.

Como curioso que sempre fui, o estilo foi me envolvendo com novos repertórios, outros ritmos e bandas diversas. Em pouco tempo já me familiarizava com toda a subdivisão de estilos que abriga a família metal, e já sabia distinguir muito bem trabalhos feitos com consistência, de trabalhos feitos para não durar tanto assim. O rock progressivo foi a primeira porta a entrar nesse movimento. Tenho pra mim que não poderia ter começado por uma entrada melhor. Apenas músicos de extrema competência sobrevivem no lado progressivo do rock, e este é um parâmetro que não deixa dúvidas.


SEPULTURA - Arise
VIPER - Thetre of fate

Duas capas de bandas memoráveis da cena metal brasileira.
Sepultura é, seguramente, uma das bandas brasileiras mais conhecidas
no exterior. Essa banda mineira tem uma carreira sólida e invejável.
O Viper é sem comparação. O heavy tradicional
meio trash, que influenciou várias bandas de sua geração. Banda paulista com ótimos
músicos e temática sempre muito bem abordada.

Não só a música me atraía nesse novo estilo musical. Saltava aos olhos, desde aquelas épocas, a excelência gráfica que envolvia todo lançamento. Ano após ano, novidades surgiam para incrementar as capas de lp’s, e os artistas que as produziam se superavam cada vez mais, lançamento após lançamento. Para os leitores mais recentes, é bom lembrar que uma capa de lp possui uma área quatro vezes maior do que a de um cd tradicional. Havia ali, numa área bem maior, a oportunidade de expor toda a criatividade artística que deixava, a cada lançamento, um motivo pra esperar o próximo. Houve um tempo em que eu comprava álbuns de bandas desconhecidas, apenas pela beleza plástica da capa. Com o tempo, aprendia a gostar da banda também. O que mais me surpreendia é que naquela época não havia a tecnologia digital que tanto auxilia o profissional gráfico de hoje. Era tudo feito ali, na mão mesmo. Algumas capas de lp’s são para mim, verdadeiras obras de arte.


DREAM THEATER - Images and words

O surrealismo ganhou ótimas interpretações com o
auxílio da computação gráfica. Manipulando imagens fotográficas,
muitas bandas da geração 90 em diante souberam muito bem explorar
esses recursos.

Alguns anos mais tarde as capas vinham duplas, lançando dois discos num único álbum. A área para a ilustração ganhava ainda mais espaços. Interiores de capas se abriam em verdadeiras cenas panorâmicas. Os anos passaram mais um pouco e a década de 90 trouxe a qualidade digital como referência. Lp’s se transformaram em cd’s e a arte gráfica já não tinha mais tanto espaço como antes, para encher os olhos daqueles que a admiravam. Se a qualidade musical ganhou com a série de novos aparatos que facilitam a vida do músico, a arte gráfica dos trabalhos perdeu um pouco do seu glamour. Perdas que não foram mais reparadas.


STRATOVARIUS - Infinite
RHAPSODY - Dawn of victory
AYREON - The dream sequencer

Com os pés originados em bandas como Manowar, o power metal
sempre defendeu a veia mais tradicional do heavy metal. A década de 90
viu nascer excelentes obras e surgir competentes bandas. Alguns
projetos isolados, liderados por guitarristas de renome também
enriqueceram a cena. As capas então, são um caso à parte.

Seria injusto de minha parte afirmar que escolhi as melhores capas para ilustrar essa matéria. Longe disso de ser a minha intenção. Escolhi por estas imagens com o pesar de deixar tantas outras. Algumas tem gostos pessoais que remetem a acontecimentos bons da vida de adolescente, outras são inegavelmente, ícones de uma época e de um novo comportamento musical. Capas como a de Dark Side of the Moon, da banda Pink Floyd, se transformaram em símbolos de todo um movimento. Injusto também, seria não lembrar das excelentes composições produzidas por Roger Dean, para capas inesquecíveis como as das bandas Yes, Uriah Heep e Ásia. Ficaria horas aqui, fazendo uma extensa lista de ótimas ilustrações que se tornaram capas lendárias de toda aquela época.


ANATHEMA - The silent enigma
AMORPHIS - Skyforger
DENUN - Toluken

O black metal e todas as vertentes mais underground do
cenário heavy surgiram bem antes com bandas como o Mercyful Fate.
Mas é da metade da década de 90 em diante que vários nomes
receberam merecido reconhecimento. 

Os anos 90 não só trouxeram a tecnologia para a música como produziram significantes mudanças comportamentais das bandas. O som mais industrial já não clamava por liberdade como em outras épocas. Tornara-se, pelo contrário, cada vez mais underground. É dessa fase o surgimento de estilos como o doom, o black e outras tantas variantes mais guturais e introspectivas. As capas tornaram-se mais soturnas, mas continuaram com a beleza plástica que sempre acompanhou uma boa produção metal.


UFO - Lights out
TIME MACHINE - Act II: Galileo

Seja na corrente mais tradicional dos tempos de UFO, ou na linha
mais moderna como o Time Machine, o rock sempre irá se reinventar e
produzir grandes obras.

O Heavy Metal segue assim, inventando e se reinventando com o tempo. Tido como quase extinto por muitos, estará mais vivo do que nunca, na mente de todos aqueles que um dia se deixaram guiar pelo seu verdadeiro caminho.


Para fechar a matéria, uma faixa da
banda Deep Purple. Daquelas que parecem
ter sido feitas para finalizar qualquer momento:
Wasted sunsets.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

PAISAGEM: PASSO A PASSO


Fiquei devendo uma matéria com a execução de uma obra feita passo a passo. Escolhi uma paisagem, em uma tela de medida 70 x 100. Não é um local existente. A cena é idealizada e para isso utilizei referências variadas de árvores, arbustos, beiras de rio... Serviram para isso estudos colhidos em locais, fotos, gravuras e um pouco de imaginação para a conclusão do trabalho.

PALETA DE CORES
. Branco de titânio
. Amarelo de cádmio claro
. Amarelo ocre
. Vermelho francês
. Terra de siena natural
. Sombra queimada
. Sombra natural
. Sépia
. Azul de cobalto
. Azul cerúleo
. Carmim
. Verde esmeralda
. Verde veronese
. Verde vessie

ETAPA 1 - Estudos e esboços


De posse de todos os recursos que mencionei acima, executei um esboço em lápis para posicionar todos os elementos de minha composição. É nessa hora também que defino o direcionamento de luz e sombra, escolha do tamanho da tela, ajustes de composição, enfim, todos os cuidados necessários ao se iniciar o trabalho. Já mencionei em matéria anterior e não me canso de recordar: gaste um bom tempo elaborando seu trabalho, isso quando estiver trabalhando em estúdio. Mesmo em plein air, observe bastante antes de transpor para a tela aquilo que deseja ou visualiza.

ETAPA 2 - Transferindo o esboço e início da pintura


Transfira o estudo para a tela da maneira que achar mais confortável. Há inúmeras maneiras de se iniciar um trabalho, e a escolha da técnica a ser utilizada é que definirá que caminho melhor tomar nesse momento. Cada artista adapta a sua maneira de fazer com a técnica que pretende utilizar. Eu particularmente, esboço a tela com grafite mesmo. De preferência nem tão macio, para não sujar demais o desenho, nem tão duro, que dificulte a visualização do traço.
Para essa demonstração, cobri algumas áreas com uma mistura bem aguada de tinta acrílica nas cores sombra natural e terra de siena natural. Se quiser incrementar seu underpainting, adicione mais algumas cores e já comece elaborar áreas de luz e sombra. Como disse anteriormente, cada artista vai achar a melhor maneira para se adaptar. O mais importante é o resultado do trabalho, e vários caminhos podem levar até ele.
Lembre-se que ao optar pela sua maneira particular de fazer, é bom cercar-se de boa técnica. É preciso que ela seja, primeiramente, segura para a vida útil de sua obra. Nunca arrisque métodos experimentares para trabalhos mais elaborados. Teste antes em superfícies de tamanhos menores e que sejam apenas seus "cadernos de experiências".
Para essa etapa, caso esteja com dúvidas ao escolher sua melhor maneira para começar, consulte a página do blog Cozinha da Pintura, que deixo abaixo como link. É muito esclarecedora e com resultados pautados em experiências muito bem conduzidas.


ETAPA 3 - Cobrindo grandes áreas



Tenho como meta, iniciar sempre o meu trabalho do ponto mais escuro da composição. É o que mostrei inicialmente na Etapa 2 e continuo executando na etapa 3. Faço isso pelo fato de me orientar melhor do escuro para o claro. É muito mais fácil comparar uma área de luz a ser executada com uma área de sombra já composta, do que o contrário. Um erro muito comum quando se inicia  pintura de paisagens é vir trazendo do fundo para o primeiro plano. Se os tons não forem bem colocados no início, há um sério risco de quando se detalhar o plano mais próximo, o fundo feito inicialmente ficar bem mais claro do que se desejava. Confirmando mais uma vez o que foi dito na etapa anterior, experimente várias situações até que se possa optar pela mais confortável, e que vá permitir os resultados que deseja.

ETAPA 4 - Posicionando melhor alguns elementos




Sem ser demasiadamente excessivo, vá definindo melhor algumas formas de arbustos e pedras, que já se encontrarem num plano mais próximo. Isso ajudará a conduzir o detalhamento na hora necessária.

ETAPA 5 - Pintando a água



Comece a definir a água. Uma regra importante é que água geralmente não tem cor, ela reflete o que está próximo. Trabalhe observando com atenção o que será reflexo e sombra, pois esses dois itens tem uma grande diferença entre si. Veja na imagem logo acima, as entradas de luzes que vem da direita, formam trechos iluminados na água, fazendo com que os reflexos de tudo que está em volta, ganhem áreas mais brilhantes à luz e mais escuras nas sombras.

ETAPA 6 - Conclusão da "mancha inicial"


Conclua a primeira etapa. Depois de seca, faça os ajustes necessários antes de começar o detalhamento. Use verniz de retoque em algumas "ilhas de fosco", que possivelmente ocorrem entre massas de cores diferentes. Caso queira, trabalhe veladuras em alguns pontos onde haja necessidade de correção da cor e da temperatura.

ETAPA 7 - Trabalhando detalhes





Tão importante quanto certificar de todos os detalhes, é saber quando parar de coloca-los. Pense na obra como um conjunto, onde todos os pontos devem se harmonizar, valorizando a atenção apenas para o ponto principal da obra.

ETAPA 8 - Término

JOSÉ ROSÁRIO - Interior de mata
Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

É momento de assinar. Uma boa regra é colocar a assinatura num ponto que não chame tanta atenção. Uma assinatura no local inadequado pode desequilibrar a composição. Espere que o trabalho esteja completamente seco para fazer o envernizamento final.